O documentário Quilombos da Paraíba está online.
http://youtu.be/UtbKfrcEYSc
quarta-feira, 23 de maio de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
UM BREVE CONTATO QUILOMBOLA de Bianca Stella Matias de Araújo
No
que concerne à experiência sobre a exposição de Alberto Banal na Estação Ciência
Cultura e Artes, pude conhecer sobre a cultura quilombola e por que não dizer
da minha cultura? Por que há essa resistência em uma assimilação da cultura
negra, afro e que remonta às nossas origens? Sabemos que durante muitos anos,
africanos foram deportados para o Brasil sendo considerados como coisas, mercadorias
assim também como seres sem alma, podendo ser usados por seus donos como estes
bem quisessem. De acordo com o que foi dito, podemos notar o quanto é difícil
nos reconhecer enquanto cultura negra, quilombola, indígena, afro. Assumir-se
como negro traz estigmas e está no imaginário da sociedade como ligado ao
escravo, enquanto considerado ser sem alma, e que não presta. Consequentemente,
há uma espécie de barreira ao reconhecimento da identidade negra.
Há
no Brasil, uma supervalorização das ditas culturas “de fora”, americana e europeia,
mostrando-se como culturas ideais e racionais e modelo a ser copiado e seguido,
rejeitando-se as raízes negras e indígenas, pois estes são considerados
enquanto inferiores e anticivilizados em relação àquelas. Neste sentido,
precisamos aprender sobre a nossa cultura e valorizá-la. “Os governadores, na
república dos Índios, aprendem índio”.[1] Em
relação aos quilombolas, podemos observar que existe um grande desejo para que
a educação seja voltada para a comunidade e para o autorreconhecimento enquanto
negro, que possui um elemento de identidade ligado à terra e ao resgate e
valorização da cultura que possibilite apreender as origens dos antepassados,
diminuindo a dificuldade ao declarar-se negro e quilombola, que como já foi
dito, traz estigmas e preconceitos.
Algo
importante a ser observado é que uma educação com base em uma valorização da
cultura quilombola, não exclui a possibilidade dessas comunidades terem contato
com tecnologias e ainda assim serem quilombolas ou indígenas. Por conseguinte,
veremos desde pessoas fabricando louças de barro, como fazendo cursos de
fotografias com câmeras digitais sem perderem sua identidade.
Não
há como se pensar em território quilombola sem a identidade. Este território é
o lugar onde eles estabeleceram vínculos com a natureza, pescam, caçam,
descobrem lugares, ou seja, a experiência é infinita. É o lugar em que seus
antepassados viveram, e que eles, agora, ouvem as histórias. Histórias essas
difíceis, de lutas, marcadas por trabalhos desgastantes na colheita da cana, como
as que foram narradas por Zé pequeno, João Paulo e Dona Severina.
Para
finalizar, depois de uma manhã a apreciar as fotografias dos jovens e de
Alberto Banal, tive a oportunidade de assistir Dona Lourdes moldar as louças a
partir do barro, ouvindo histórias e músicas cantadas por Zé pequeno.
A
mostra revela sua fundamental importância ao mostrar que o povo quilombola
apesar de esquecido pela sociedade, está vivo, e que deve viver com qualidade com
seus direitos que muitas vezes são renegados, assegurados.
[1]
SANTOS, Boaventura de Sousa; A gramática
do Tempo: Para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006. P.202
12 de maio: encontro com a monitora quilombola Rosângela (quilombo Matão) |
20 de maio: assistindo a fala de João Paulo (quilombo Pedra d'Água) |
Zé Pequeno (quilombo Negros das barreiras) |
Dona Lourdes (quilombo Grilo) |
Dona Severina (quilombo Senhor do Bonfim) |
Bianca e os seus colegas do Curso de Direito na UFPB |
segunda-feira, 21 de maio de 2012
SEVERINO E SEU CAVALO DE AÇO de Luís Zadra
Estamos
voltando do quilombo do Grilo com coração amargurado e triste: a estiagem está
acabando com tudo. A paisagem é árida e o olhar espraia num cenário cinzento
debaixo de um sol inclemente. Os pés de pinha estão murchos e com as frutas que não vingaram, queimadas pelo sol. O inhame
que prometia não enramou, até as águas das cisternas estão minguando. Bate na
mente o canto Asa Branca enquanto vou descendo a serra. Grilo é um lugar bonito
agarrado em cima de uma serra bem alta: quando não falta inverno é lindo, mas
se torna lugar difícil para quem vive
aqui há uma vida e de quando em vez se depara com a seca. No caminho encontro o
Severino que todo equipado está subindo de volta do mercado em sua moto. É
sábado e foi para a feira na cidade como todo morador da região. Quase não o
reconheço com sua cabeça miúda enfiada num capacete enorme e só do uma buzinada para cumprimentar
este guerreiro. Não da para parar nesta estrada acidentada e íngreme: o
motoqueiro pode ter dificuldade para arrancar de novo. Encontrar o Severino, de
repente me deu animo, foi quase uma bofetada na cara para quem andava
carregando as agruras do lugar e me lembrei da história deste homem que sempre
admirei. Severino é marido de Lourdes a louceira do Grilo. Os dois são uma nota
característica da comunidade de umas 60 famílias com suas casinhas situadas no
meio de pedras enormes, em cima da serra de onde se podem observas quatro cidades.
Já perto dos setenta, este casal é acolhedor, simpático: sua casinha é bem
limpinha e aconchegante.
Lembro-me
que uns três anos ou mais atrás, seu Severino que sempre andava num burro velho
para cima e para baixo da serra , inventou de comprar uma moto usada para substituir
o burro já meio cansado, alias os dois, ele e o o seu burro de estimação que ainda
hoje zela como fosse parte da família. É o companheiro no roçado. O casal não
tem filhos, mas ajudou a criar os sobrinhos, vários sobrinhos que depois
procuraram seu destino. Lembro-me que quando admirado, indaguei seu Severino
como fazia para andar no seu cavalo de aço, como ele dizia, numa serra onde não
tem um metro de chão plano, já de idade avançada, ele me respondeu que um dia
haveria de amansar esta fera Por enquanto treinaria só em cima da serra porque
a ladeira é perigosa demais e as pernas ainda não estavam firmes. Severino
teimou, teimou e consegui. Devagar andou ladeira abaixo e acima como para mostrar a sua nova amiga moto como se
andava pelas serras: com muita manha. Severino adoeceu, findou por causa de uma
gastrite ou talvez outra coisa pior que nunca soube o que fosse e que o reduziu
a pele e osso, ele que já era magrelo por natureza. Enfrentou uma cirurgia em
Campina Grande que o abriu do gogó a virilha. Ficou parado um tempão enquanto
tentava se recuperar. A moto o
aguardava, alias os dois se aguardavam para tempos mais favoráveis. Volta e
meia se consultava na cidade mas estava
muito difícil para ele. Um dia o encontrei no Grilo, me despedi dele porque por
causa de uma viagem eu demoraria para voltar. Descendo a serra tinha uma
sensação triste que nunca mais o teria reencontrado. Tinha ficado um nadinha e todo
mundo estava preparado para o pior. Mas este Severino honrou os Severinos deste
nordeste bravio e teimoso e escapou e la vai ele no seu cavalo de aço que
finalmente amansou, aos quase setenta anos, desafiando o mundo com uma calma e
uma mansidão sem fim como se tivesse feito uma coisa comum. Estas serras, este nordeste produziram gente
de raça, de garra que sabem enfrentar os percalços da vida. A seca do nordeste
moldurou gente para viver nas adversidades, gente que enfrenta as paradas piores
e que sabe esperar, agarrada ao seu torrão que muitas vezes teve que deixar por
causa da fome, mas por tempo porque sempre
bate a saudade e quando chove o sertanejo endoida para voltar, para
plantar, para encher os olhos do verde que de repente brota nas terras mais
secas e queimadas como bem cantava o
poeta na “A Volta da Asa Branca” (Luiz
Gonzaga). É o ciclo da vida, da “Morte e Vida Severina” (João Cabral de Melo
Neto).
Severino |
Severino, dona Lourdes, Maria num encontro com Luís |
Imagens da seca |
a pista para o Grilo |
A casa de Severino e dona Lourdes |
Imagens do Grilo |
Severino procurando água |
domingo, 20 de maio de 2012
Neabi encerra o curso afro visitando a exposição Quilombos da Paraíba na Estação Cabo Branco Ciência Cultura & Artes
O Neabi – Núcleo de estudos e pesquisas afro-brasileiros e indígenas/UFPB – organizou no mês de maio de 2012 um minicurso sobre “Acervo, memória e população negra”.
O quarto encontro do curso foi sobre “Comunidades negras, ancestralidade e espaços de vivências”. O ministrante foi o fotógrafo Alberto Banal que, depois de uma breve palestra, projetou o documentário “Quilombos da Paraíba: a realidade de hoje e os desafios para o futuro” concluindo com a visita a exposição Quilombos da Paraíba”.
Os ministrantes da primeira sessão foram a profª Solange Pereira da Rocha (DH/NEABI/UFPB) e o proº Elio Chaves Flores (DH/NEABI/UFPB):
1. PROAFRO: programa de Promoção da Igualdade Racial e Valorização da Matriz Cultural Africana no Estado da Paraíba/Nordeste/Brasil;
2. Organização e uso de Banco de Dados e escrita da história e memória da população negra da Paraíba.
Os ministrantes a seguir foram a Profª Lìgia Luís de Freitas – Doutoranda em Educação/PPGE/UFPB, a Bibliotecária Leyde Klébia – Mestranda em Ciências da Informação/PPGCI/UFPB e a Profª Alcilene da Costra Andrade – Mestre em Educação/PPGE/UFPB/profª da UEPB.
Objetivos:
1. Discutir sobre os conceitos de acervo digital e memória e da sua importância para reconhecimento das contribuições da população negra na sociedade brasileira.
2. Refletir sobre come pluralidade(s) e diversidade(s) etnicorraciais aparecem (memória) e são tratadas pela sociedade.
3. Reconhecer a importância da construção de acervos digitais para preservação da memória da população negra.
Conteúdos:
Conceitos e saberes necessários: acervo e memória (ponto de partida – conhecimento do grupo).
Qual a memória social brasileira sobre a população negra? Pluralidade(s) e diversidade(s) etnicorraciais na sociedade.
Buscando e recuperando a informação etnicorracial em acervos digitais: preservando a memória da população negra.
O quarto encontro do curso foi sobre “Comunidades negras, ancestralidade e espaços de vivências”. O ministrante foi o fotógrafo Alberto Banal que, depois de uma breve palestra, projetou o documentário “Quilombos da Paraíba: a realidade de hoje e os desafios para o futuro” concluindo com a visita a exposição Quilombos da Paraíba”.
Palestra e documentário de Alberto Banal |
Foto de grupo na exposição Quilombos da Paraíba |
Quilombolas em cena na Estação Cabo Branco (de Luis Zadra)
No âmbito da exposição Quilombos da Paraíba, no dia 20 de maio a atenção foi voltada para as louceiras e os quilombolas velhos que vieram de várias comunidades para marcar presença. Os quilombos tem marcos muitos significativos na sua história: dentre eles o trabalho com barro e os velhos que preservam a memória oral. A presença destas figuras na Exposição tinha como finalidade oferecer ao público o testemunho vivo dos valores preservados nas comunidades quilombolas, mas também queria que os protagonistas deste momento percebessem quanto sua presença era importante num evento que tem como finalidade expor, mostrar a vida quilombola. Dona Lourdes, quilombo Grilo, moldava com suas mãos ligeiras a argila como se fosse uma criatura a quem devia ajudar a ter forma: não se importava de quem estivesse ao redor. Sentia-se em casa, como se estivesse no seu cantinho onde trabalha há anos com sua argila. Com uma agilidade impar em pouco mais de 2 horas já tinha dado vida a várias louças de formato diferente: vasilhas de uso doméstico e que remetem ao milenar costume africano de produzir estes artefatos. Enquanto isso seu João Paolo (quilombo Pedra d´Água) e dona Severina (quilombo Bomfim) contavam os “causos” duma história transmitida oralmente pela memoria coletiva. A argila tomava forma na frente do olhar atento dos presentes, o Zé Pequeno (quilombo Negros das Barreiras) em alguns momentos brindava os presentes com uma cantoria firme: corpo franzino, mas voz possante acompanhada pelo seu pandeiro enchia o salão da exposição com as cantigas populares. Estes representantes dum povo resistente e sobreviventes das muitas secas deram brilho e vida a esta imponente e bela obra de arquitetura da Estação Ciência, espaço e moldura perfeita para “expor” nobreza e vida.
Alguns modelos da produção de dona Lourdes |
João Paulo "dando aula" de história |
Zé Pequeno contando a história da sua vida |
João Paulo, Zé Pequeno e dona Severina |
Zé Pequeno, dona Severina e Lourdes |
João Paulo mostra um documento de alforria |
Zé Pequeno com o seu pandeiro |
dona Lourdes prepara o barro |
dona Lourdes em ação |
trabalhando e contando histórias |
as peças de dona Lourdes |
dona Maria com o seu bordado labirinto |
visitantes |
foto de grupo |
Lourdes (Pedra d'Água) perto da sua foto |
dona Severina com a filha Maria perto da foto do filho Geraldo |
Zé Pequeno perto da sua foto |
dona Lourdes perto da sua foto |
dona Lourdes com uma sua peça na exposição |
Assistindo ao documentário sobre os quilombos da Paraíba |
a família de Zé Pequeno visitando a exposição |
o grupo de quilombolas admiram o painel de Flavio Tavares |
foto de grupo para lembrar o evento |
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