O trabalho de identificação e reconhecimento das
comunidades quilombolas é um capítulo aberto de um grande livro, de outra
história a ser escrita no Brasil. Reconstruir e recontar a história do lugar e
das famílias quilombolas é fazer sangrar feridas. Muitos não gostam de remexer no
passado porque isto traz à tona a dor e a amargura.Diante disto, qualquer pessoa que se disponha a
estudar tais comunidades precisa entender que sua contribuição deverá se dar no
sentido de contribuir para resgatar a identidade da comunidade estudada e não
apenas de catalogar ou descrever a forma como estas pessoas vivem e sobrevivem,
dentre outros.Conhecer as comunidades quilombolas do Nordeste é
adentrar um terreno desconhecido, mergulhando em uma realidade muitas vezes
negada, e revisitar a ancestralidade dos afro-descendentes.Na medida em que nos
aproximamos da realidade, descobrimos que a Paraíba é pontilhada por
comunidades quilombolas, do litoral ao sertão, e que isto exige um trabalho de
reconstrução do caminho percorrido pelos quilombolas no Estado.A exposição Quilombos
da Paraíba quer testemunhar que o povo quilombola está vivo e quer continuar
a viver. Quer também mostrar o trabalho feito
pela Associação de Apoio às Comunidades Afrodescendentes (AACADE) que tem como
objetivo a conscientização, organização e o desenvolvimento das comunidades quilombolas
da Paraíba. Os animadores principais da Associação são: Luis Zadra voluntário
italiano, há 38 anos no Brasil, velho amigo de infância que reencontrei depois
de muitos anos aqui em João Pessoa, e Francimar Fernandes de Sousa, socióloga
paraibana. Foi graças a estas duas pessoas que eu pude conhecer a realidade do
povo quilombola da Paraíba e foi possível o empenho para criar um espaço de
visibilidade para quem desde sempre se encontrou excluído e ignorado pela
sociedade.Quero também salientar a participação ativa do grupo
“Fotógrafos de rua”, formado por jovens quilombolas, alunos meus dos cursos de
fotografia, com o intuito de contribuir com as suas fotos a criar uma
comunicação “de dentro para fora” da sua realidade.Esta exposição é somente uma pequena contribuição no
intuito de apresentar esta realidade, desconhecida a muitos, e que está impregnada
de histórias de opressão e pobreza extrema, mas também é testemunho vivo de
valores e tradições zelosamente conservados.Os lugares e os rostos revelam a profundidade da alma
deste povo.
Alberto Banal
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