sábado, 3 de dezembro de 2016

Quilombo Senhor do Bonfim: a festa que não aconteceu

Devia ser um encontro festivo o evento marcado com o quilombo Senhor de Bonfim e demais comunidades quilombolas representadas da Paraíba, com a delegação vinda de Brasília para a entrega do CCDR - CONTRATO DE CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO COLETIVO, SOB CONDIÇÃO RESOLUTIVA, uma espécie de contrato provisório de uso da terra na espera da titulação definitiva que, no caso de Bonfim, está absurdamente atrasada por causa de um empecilho burocrático. A expectativa pela titulação de seu território foi frustrada.

Faziam parte da delegação: Rogerio Arantes- Diretor de Ordenamento da Estrutura Fundiária – INCRA – DF, Isabelle Picelli - Coordenadora Geral de Regularização de Território - INCRA – DF, Carolina Nascimento - Diretora de Proteção do Patrimônio Afrodescendente - Fundação Cultural Palmares e Sólon Diniz Superintendente do INCRA – Paraíba.

Se a intenção era de transformar o encontro numa manifestação de apoio a ação do governo federal pela assinatura deste documento, não deu certo: os representantes dos quilombos não pouparam críticas a inadequação da ação do Incra e da Fundação Cultural Palmares para com os quilombos e apresentaram uma carta de queixas fundamentadas na situação de extrema dificuldade em que se encontra a maioria das comunidades quilombolas.

No final do evento foram assinados dois documentos: o CCDR e a Carta dos quilombolas da Paraíba que foi oficialmente entregue aos representantes do INCRA e da Fundação Cultural Palmares.

A seguir, a reprodução da Carta dos quilombolas do Bomfim e demais representantes quilombolas presentes, aos representantes dos órgãos do governo pela entrega do CCDR.

CECNEQ Coordenação Estadual das Comunidades Negras e Quilombolas Endereço: Rua Duque de Caxias, 59- Centro - João Pessoa - Paraíba Sala: 01 CEP: 58010-820 

CARTA DOS QUILOMBOLAS - PARAIBA 

Aos Senhores(as) Rogerio Arantes- Diretor de Ordenamento da Estrutura Fundiária – INCRA - DF, Sólon Diniz - Superintendente do INCRA - Paraíba, Isabelle Picelli - Coordenadora Geral de Regularização de Território - INCRA - DF, Carolina Nascimento - Diretora de Proteção do Patrimônio Afrodescendente - Fundação Cultural Palmares.

Enquanto assinamos este termo de compromisso com os representantes do estado brasileiro, nós, quilombolas do quilombo Bomfim, do quilombo Matão, do quilombo Mundo Novo, do quilombo Grilo, representando os demais 39 quilombos da Paraíba, lamentamos a situação em que se encontram nossas comunidades no tocante a demarcação de seus territórios. Somente o Senhor do Bomfim e o Grilo conseguiram, depois de muita luta, seus territórios, não titulados ainda. São vários os processos abertos no INCRA, laudos para serem concluídos e uma estrutura deficitária para atender as demandas.

Não podemos deixar o legislativo avançar contra nós com a PEC 215 nem que o judiciário decida que nosso decreto 4884/2003 é inconstitucional O futuro dos quilombos está vinculado ao território: quilombo sem território é quilombo sem futuro.
É urgente a agilização da demarcação e a legalização dos territórios por nós reivindicados. É urgente a liberação de recursos para o Programa minha casa Minha Vida.
Ao mesmo tempo denunciamos a extinção do Programa Fome zero que há vários meses nos deixou somente na espera, sem nos dar satisfação alguma. Este programa beneficiava somente 639 famílias, nem a metade das famílias que necessitam desta ação complementar.
A maioria dos quilombos da Paraíba fica na região do semiárido, com problemas gravíssimos de insegurança alimentar e hídrica. O quilombo Bomfim, privilegiado pela natureza por estar situado na região do Brejo Paraibano, a partir da imissão de posse repassou suas cestas do programa Fome Zero para outra comunidade quilombola carente por ter alcançado autonomia produtiva e alimentar.
O território é condição primordial para a afirmação da dignidade.

O governo Brasileiro não pode acabar com o processo de inclusão dos quilombos, que embora limitado, com o governo Lula e Dilma avançou bastante. Para nós este é um momento de muita apreensão e incertezas: queremos que nossos direitos sejam respeitados. Os quilombolas esperaram demais, por vários séculos, para serem reconhecidos como seres humanos e cidadãos brasileiros.
Não nos peçam compreensão e paciência: queremos viver com dignidade, sem Nem um Direito a menos!

Assinam este documento em nome dos quilombos da Paraíba a representante da Coordenação Estadual – CECNEQ e membro da Coordenação Nacional – CONAQ e demais representantes quilombolas presentes.












 


domingo, 27 de novembro de 2016

Realizada com successo a IIª Maratona quilombola

26 de novembro de 2016
A IIª Maratona quilombola da Paraíba foi organizada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana em parceria com a Associação de apoio as comunidades afrodescendente – AACADE, que deu o apoio logístico para o transporte dos quilombolas participantes e garantiu a presença do grupo oloduMatão do quilombo Matão.
A co-realização foi da Prefeitura Municipal de Remígio com o apoio da Secretaria de Estado da Educação.
A Maratona Quilombola largou às 16.30 h, saindo da comunidade Engenho Bonfim, em Areia, até a Academia de Saúde da Lagoa Parque, no município de Remígio.
Na categoria quilombola masculina a ordem de chegada foi: Edinaldo da Silva – Caiana dos Crioulos (Iº lugar), Francisco Luiz – Caiana dos Crioulos (2º lugar), Antônio Mariano – Senhor do Bonfim (3º lugar) e Leonardo – Matão (4º lugar).
Na categoria quilombola feminina no primeiro lugar se classificou Pauliana Rita e no segundo lugar Josefa de Lourdes (ambas de Caiana dos Crioulos).
Muito animada foi a exibição do grupo de percussão e dança afro “oloduMatão” que conseguiu envolver os grupos locais de dança “Luar da minha terra” e de capoeira.
A festa acabou com uma alegra ciranda puxada por Cida de Caiana dos Crioulos.




















oloduMatão prestigia a IIª Maratona quilombola da Paraíba

A IIº Maratona quilombola aconteceu no dia 26 de novembro de 2016.
Partida: Quilombo Senhor do Bonfim, chegada município de Remigio.
Organização: Secretaria estadual da Mulher e Diversidade Humana em parceria com AACADE (Associação de apoio as comunidades afrodescendentes) - Apoio: Município de Remigio.

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terça-feira, 22 de novembro de 2016

oloduMatão na Festa da consciência negra em Pedra d'Água

Percussão, dança, afoxé, samba reggae: oloduMatão participa da festa da consciência negra no quilombo de Pedra d'Água e envolve dançarinas e alunos de capoeira da comunidade (mestre Abimael Candeias).
"olodumatão" é um projeto de percussão e dança afro desenvolvido pela AACADE (Associação de apoio as comunidades afrodescendentes) em parceria com Casa dos sonhos.

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Ciranda na Festa da consciência negra em Caiana dos Crioulos

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Titulação fora do horizonte: mais de 1.500 comunidades quilombolas esperam pelo título de suas terras

No dia da Consciência Negra, a Comissão Pró-Índio divulga balanço anual sobre a evolução dos processos de titulação das terras quilombolas. Em 2016, apenas uma terra quilombola foi titulada até o momento.

Longos 13 anos. É o tempo que as 387 famílias quilombolas de Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais, aguardam pela conclusão do processo de titulação de suas terras no Incra. No Pará, em Oriximiná, o processo de regularização da terra Alto Trombetas, onde vivem 182 famílias quilombolas, se arrasta por 12 anos. Já na Paraíba, as 39 famílias quilombolas de Serra do Talhado esperam há 11 anos que o Incra finalize o processo de regularização de suas terras.

Infelizmente, essa é a realidade de muitas comunidades quilombolas pelo Brasil. Segundo cálculos da Comissão Pró-Índio, 467 processos de terras quilombolas tramitam pelo Incra há 10 anos ou mais sem conclusão. Ao lado dos processos mais antigos, outros mais recentes se somam, chegando a um total de 1.525 processos abertos atualmente no órgão federal.

2016 vem se mostrando mais um ano de poucos avanços na regularização das terras quilombolas com apenas uma titulação até o momento. Após aguardar nove anos pela tramitação de seu processo no Incra, as 89 famílias quilombolas da comunidade Tabacaria recebem hoje (20/11) título de propriedade referente a 399 hectares dos 410 hectares reconhecidos e declarados como pertencente a comunidade.

Já no âmbito dos governos estaduais não se registra ainda nenhuma titulação esse ano. Os governos estaduais são os responsáveis pela titulação de grande parte das 165 terras quilombolas tituladas no Brasil. Foram 131 titulações realizadas pelos estados da Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, São Paulo e Rio de Janeiro. Da lista, os estados do Maranhão, com 52 terras, e do Pará, com 50, se destacam. Porém, o estado do norte do país, pioneiro na regularização de terras quilombolas, diminuiu consideravelmente o ritmo de titulações nos últimos anos.

Quilombolas do Alto Trombetas (PA) em protesto no município de Santarém (PA) Foto: Carlos Penteado
Evolução Processos no Incra 
As publicações em 2016 seguem a média dos anos anteriores mantendo-se bastante aquém da demanda. Do total de 1.525 processos no Incra, somente 37 tiveram avanços em 2016 com a emissão de Concessões de Direito Real de Uso (3) e publicações (5 decretos de desapropriação, 19 portarias de reconhecimento e 10 relatórios de identificação).

Os obstáculos para a concretização das titulações são muitos e diversos. A titulação das terras quilombolas envolve, em muitos casos, contrariar interesses de setores do agronegócio e mesmo do governo. O orçamento do Incra para encaminhar os processos vem sendo reduzido a cada ano - em 2016, o Incra contou com um orçamento 73% inferior ao de 2015. E o Serviço Quilombola, embora tenha crescido e se consolidado nos últimos anos, ainda é insuficiente para dar conta da enorme demanda.

PLACAR 2016 (20/11/2016) 

TÍTULOS EMITIDOS 1 terra titulada – 1 comunidade beneficiada.

PUBLICAÇÕES Concessão de Direito Real de Uso: 03 terras - 3 comunidades beneficiadas Decreto de desapropriação: 5 decretos – 5 comunidades beneficiadas Portaria de Reconhecimento: 19 portarias – 19 comunidades beneficiadas Relatório de Identificação (RTID): 10 RTIDs – 11 comunidades beneficiadas.


Governo Temer 
O governo Temer transferiu do extinto Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário para a Casa Civil, a competência de delimitação das terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos. O Incra – agora vinculado à Casa Civil - continua como o órgão responsável por conduzir os processos de regularização das terras quilombolas. Porém, tal mudança parece indicar que o andamento dos processos de titulação será ainda mais influenciado por decisões políticas.

A previsão orçamentária do governo Temer para 2017 sinaliza ainda maiores dificuldades para a execução da política de regularização das terras quilombolas. A proposta encaminhada ao Congresso estabelece uma redução de 50% do orçamento do Incra para a titulação de terras quilombolas em comparação com 2016. A proposta prevê 4,1 milhões para a política de titulação de terras quilombolas, ante aos 8 milhões deste ano.

O cenário de baixa efetividade dos direitos dos quilombolas, portanto, tende a piorar. Até hoje, quase 30 anos após a Constituição garantir o direito dos quilombolas aos seus territórios, o governo federal titulou somente 37 terras sendo que 20 delas apenas parcialmente.

Assim, 92,5% das 214.000 famílias quilombolas que a SEPPIR estima existirem no Brasil permanecem na insegurança e vulneráveis às disputas e conflitos agrários enquanto aguardam a regularização de suas terras.

Monitoramento dos Direitos Territoriais
A Comissão Pró-Índio de São Paulo monitora, sistematiza e divulga dados relacionados aos direitos territoriais das comunidades quilombolas desde 2004. Os resultados da pesquisa são disponibilizados aqui.

Fonte: Comissão Pro Índio - São Paulo http://comissaoproindio.blogspot.com.br/2016/11/titulacao-fora-do-horizonte-mais-de.html

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Quilombo de Caiana dos Crioulos abre as portas (documentário)

Um documentário que vai além dos padrões estereotipados sobre o negro e o quilombola: parabéns ao diretor Caio Beltrão.

Falar da trajetória da população negra em uma localidade é sempre um desafio, principalmente quando o que se tem dela, são ecos e rastros recentes, marcados pela resistência, cujo protagonismo ainda é receoso e tímido. É nesse sentido fundamental que o fazer jornalístico articula história, costumes, tradições.
Ao questionar, oportunizamos à comunidade entrelaçar mais uma vez as estruturas sociais, históricas e as suas experiências recentes como forma de re-existir, resistir. E nisso tomarmos parte como pesquisador de acontecimentos vivos, emergentes, pulsantes, como presencia João Cabral de Melo Neto (1967) “não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica”.
O quilombo é a representação exteriorizada da vida da população negra, lócus da sua cidadania, da sua subjetividade.
Agradecemos à Comunidade Quilombola de Caiana dos Crioulos e todos os colaboradores que tornaram possível esse projeto.

para assistir ao vídeo clicar na imagem