Quatro anos seguidos de seca que estava novamente se perpetuando neste nordeste onde o fenômeno das grandes secas recorrentes sempre obrigou o nordestino a se tornar retirante para não morrer de fome.
O ano passado o quilombo Grilo, logo depois da conquista da terra em março, quis desafiar a seca plantando mais de quarenta hectares de terra depois de umas chuvas promissoras. Amigos dos quilombos ajudaram nesta tarefa. Tudo perdido: só colheram poucos quilos de feijão. Mas valeu a pena tentar porque permitiu aos quilombolas se sentir donos da própria terra, conquistada depois de anos de luta. Este ano se animaram e plantaram por conta própria mais terra ainda. Mas...finalmente chegou a tão esperada chuva, abundante e generosa e os plantios que já começavam a se perder renasceram com um verde intenso.
Afaga a alma ver tudo verdejante, a terra molhada. Estou muito agarrado a terra, ao destino deste povo que demasiadas vezes fica agarrado por um fio a vida. Dependem exclusivamente dos ritmos do tempo. Este ano vai ser farta a colheita.
Do alto do Grilo deixei que meu olhar espraiasse demoradamente pelos morros e baixios abaixo, contemplando os roçados cultivados que de vermelhos que eram se tingiram de verde. Respiro aliviado, profundamente, pensando na alegria dos camponeses. Mais uma vez experimentei a generosidade das pessoas genuínas que sabem agradecer sem dizer uma palavra, por meio do presente dos primeiros frutos: feijão verde, milho, jerimum que ao retorno carrego no carro.
Não tem dinheiro que pague esta sensação única do contato com os elementos primordiais do mundo: a terra, a chuva, as sementes e o fruto do trabalho das mãos. Quantas vezes afundei na terra molhada as mãos e pês para experimentar seu abraço materno.
Neste momento tão desanimador do nosso pais Brasil onde as esperanças se perdem no horizonte, é preciso se agarrar aos pequenos sinais de vida. Sentar numa tora de pau junto com os lavradores para ver seus sorrisos, a satisfação...é uma experiência única. O milagre da chuva que fecunda a terra e renova as esperanças. Vai ter fartura de milho nas próximas festas juninas e a festa será bonita e gostosa como as espigas de milho cozido ou assado na brasa.
Aqui a vida de lavrador é sempre um recomeçar; “amanhã será melhor é a frase que mais corre nos lábios deste povo teimoso em viver.
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beleza pura! a vida não pode abdicar de suas estruturas mais primárias e essenciais. O milagre da vida, a comunhão dos elementos e o reprocessamento dos caminhos que dão continuidade à ela em seu caminho para o esclarecimento.
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