sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Agenda Campina: ALBERTO BANAL ABRE NOVA EXPOSIÇÃO SOBRE GERAÇÃO DE VELHOS E NOVOS QUILOMBOLAS

Duas faces específicas do povo quilombola podem ser vistas no trabalho fotográfico do italiano Alberto Banal, radicado na Paraíba há mais de cinco anos. A mostra intitulada ‘Troncos Velhos e Galhos Novos’ foi aberta neste domingo (8) no primeiro pavimento da Torre Mirante da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, no Altiplano. A entrada é aberta ao público de todas as idades. A exposição permanece aberta para a visitação até o final do mês dezembro. O horário é de terça à sexta-feira das 9h às 21h e sábados, domingos e feriados das 10h às 21h.


A mostra retrata as duas faces específicas do povo quilombola, a dos idosos, que representa a raiz da tradição (o “antigamente”), e a das crianças, que representa o grande potencial de futuro (o “futuramente”). Enquanto os anciãos carregam os valores da ancestralidade e garantem a continuidade da tradição, as crianças constituem uma geração chave e estratégica para o futuro que pode ser o começo de um novo tempo, como também a última etapa da dissolução de muitas comunidades.
“Existe uma geração que está vivendo e sofrendo o advento da modernidade em todos os seus aspectos sociológico, tecnológico, antropológico, enquanto a transmissão da cultura tradicional está se perdendo num esquecimento assombroso”, comentou Alberto Banal.

As crianças, que aparecem nas imagens da exposição, fazem parte do Projeto Escrilendo, uma atividade da Associação de Apoio as Comunidades Afrodescendentes da Paraíba (AACADE), em parceria com Casas de Leitura, Casa dos Sonhos e os amigos italianos da Associação Uniti Per La Vita e do grupo Just Dance. O projeto incentiva o prazer da leitura e escrita, e propõe resgatar e reforçar a identidade cultural das comunidades quilombolas dos municípios de Matão, Matias e Pedra d’Água.

“O Estado da Paraíba possui hoje 39 comunidades quilombolas catalogadas e conhecidas. Destas, 37 ainda não possuem certificado de reconhecimento emitido pela Fundação Cultural de Palmares (BA)”, afirmou Alberto Banal.

Sobre o fotógrafo – Alberto Banal é natural da região de Trentino (Itália), tendo o título de doutor em Letras e Filosofia pela Università degli Studi de Milão. Por causa do trabalho e, sobretudo, por paixão, teve a possibilidade de visitar 46 países no mundo. Nas suas viagens, conheceu povos e culturas diferentes, aprendendo a riqueza das diversidades, e construiu, graças a sua paixão pela fotografia, um precioso arquivo de imagens e memórias. Desde 2005, Alberto mora em João Pessoa, onde continua este ofício de documentarista, dando visibilidade ao povo negro dos quilombos da Paraíba. É integrante da Associação de Apoio aos Assentamentos e Comunidades Afrodescendentes (AACADE), onde coordena os projetos Casa de Leitura, Fotógrafos de Rua e Escrilendo, que desenvolvem atividades culturais com crianças de comunidades quilombolas.
Nas comunidades quilombolas produziu várias imagens, que se tornaram em exposições. São elas: “Olhando: de dentro para dentro, de dentro para fora” (SESC Centro, João Pessoa, 2010); “Identidade Quilombola: Autopercepção e Comunicação - O quilombo do Matão visto por si mesmo” (Centro Cultural São Francisco/JP, 2010); “Quilombos da Paraíba: A realidade de hoje e os desafios para o futuro” (Estação Cabo Branco Ciência Cultura & Artes, JP/PB, 2012); “Quilombos da Paraíba” (Museu Assis de Chateaubriand, Campina Grande/PB, 2012); “O Povo Quilombola: Um Brasil desconhecido” (Itália, 2013); e “Feminino Quilombola” (Estação Cabo Branco Ciência Cultura & Artes, JP/PB, 2013 e 2014).

Junto com Maria Ester Pereira Fortes, organizou o livro “Quilombos da Paraíba, a realidade de hoje e os desafios para o futuro”, o primeiro estudo exaustivo sobre a realidade quilombola da Paraíba.

SERVIÇO: EXPOSIÇÃO – “Troncos Velhos e Galhos Novos” Expositor: Alberto Banal Local: Primeiro pavimento da Torre Mirante da Estação Cabo Branco Entrada gratuita Mais informações: 3214.8303 – 3214.8270 www.joaopessoa.pb.gov.br/estacaocb
Fonte: PB Agora

Jornal da Paraíba: Fotógrafo lança exposição sobre os velhos e novos quilombolas da PB de Audaci Junior

11/11/2015
Fotógrafo lança exposição sobre os velhos e novos quilombolas da PB - Alberto Banal expõe 'Troncos Velhos e Galhos Novos' na Estação Cabo Branco, na capital.

Quilombolas da 'velha guarda' posam para o registro de Banal
A força das antigas raízes da tradição que alimenta e fortalece os seus jovens galhos. Com uma vivência e pesquisa de quase uma década, o fotógrafo italiano radicado na Paraíba Alberto Banal é o autor da exposição Troncos Velhos e Galhos Novos, que está aberta até o final de dezembro na Estação Cabo Branco, no Altiplano, em João Pessoa. A entrada é gratuita.

O retrato do povo quilombola paraibano é colocado pela relação intergeracional entre o preto e branco do “antigamente” e o colorido do “futuramente”, de acordo com o autor do projeto. “A nova geração vive num contexto histórico e social muito diferente”, explica Alberto Banal. “Como está acontecendo esse legado de identidade e memória? Os quilombolas estão conseguindo repassar?”. De acordo com o italiano, existe uma geração que está vivendo e sofrendo o advento da modernidade em todos os seus aspectos sociológico, tecnológico e antropológico, enquanto a transmissão da cultura tradicional está se perdendo gradativamente.
“Se nada for feito, eles estão condenados a dissolução nos próximos anos”, alerta Banal, informando que um dos fatores vitais para as comunidades é o reconhecimento do seu território, um processo lento através dos órgão públicos competentes. “O Estado da Paraíba possui hoje 39 comunidades quilombolas catalogadas e conhecidas. Destas, 37 ainda não possuem certificado de reconhecimento emitido pela Fundação Cultural de Palmares (BA)”, afirma.

'ESCRILENDO'
As crianças que foram clicadas para colorir Troncos Velhos e Galhos Novos fazem parte do projeto 'Escrilendo', uma atividade da Associação de Apoio às Comunidades Afrodescendentes da Paraíba (Aacade), em parceria com Casas de Leitura, Casa dos Sonhos e os amigos italianos da Associação Uniti Per La Vita e do grupo Just Dance. O projeto incentiva tanto a leitura quanto a escrita, propondo um resgate e um reforço à identidade cultural das comunidades quilombolas paraibanas de Matão, Matias e Pedra d’Água.

Junto com Maria Ester Pereira Fortes, Alberto Banal organizou o livro Quilombos da Paraíba - A Realidade de Hoje e os Desafios para o Futuro (Imprell, 310 páginas, R$ 25,00), o primeiro estudo sobre a realidade quilombola do Estado, englobando a visão de sete antropólogos. “A Consciência Negra tinha que ser comemorada todos os dias do ano, não apenas neste mês”, comenta o fotógrafo italiano.

Fonte: Jornal da Paraíba

terça-feira, 10 de novembro de 2015

20 DE NOVEMBRO, UM DIA ESPECIAL - DOS 365 DIAS DO ANO DA CONSCIÊNCIA NEGRA de Luís Zadra

O dia 20 de novembro quer afirmar que o negro deve ter consciência 365 dias por ano do ser negro com tudo o que diz a respeito a sua beleza e ao seu valor como de ser portador de todos os direitos que todo cidadão brasileiro e do mundo tem: casa, trabalho, terra, escola boa, saúde ....
A festa da consciência negra não é um presente, algo que os outros doam aos negros, não é folclore, mas é celebração da luta dos negros que começou bem antigamente e que se intensificou com Zumbi nas terras dos Palmares. Esta é uma luta permanente e sempre atual. Muitos negros lutaram e muitos morreram para que negros e brancos pudessem viver irmanados. Consciência de negro significa levantar a cabeça e a voz perante o poder e o poderoso que nos querem calados, para dizer e gritar nossos direitos.
É saber que nossos direitos começam e terminam onde começam e terminam os direitos dos brancos, de todos, é saber que ninguém é maior que ninguém. O mundo é bonito porque é variado: cor da pele, comida, língua, religião, costumes, festas... Somos diferentes na forma de ser mas somos iguais na dignidade. Não se importem com as pessoas mesquinhas que não sabem enxergar as coisas, tenham pena delas. Afinal Deus criou todas as pessoas a sua imagem e semelhança, coloridas e variadas e a alegria de Deus é ver seus filhos e filhas em todo o canto do mundo com vida e com prazer de viver. Por isso convidamos as comunidades quilombolas da Paraíba a festejar da forma que acharem melhor este dia especial pelo testemunho de Zumbi dos Palmares que não aceitou a escravidão, não fechou a boca, não tapou os ouvidos e os olhos perante a discriminação e a injustiça.
Sejam rebeldes como Zumbi. Não façam festa para branco olhar ou admirar, mas façam festa de negro para negro onde o branco pode entrar desde que assuma a causa do negro. Não se preocupem com o tamanho da festa, se preocupem que todo o quilombo participe. Dança, tambores, cores, palavras, testemunhos e comida, tudo deve ser preparado e partilhado juntos Entoem seus cânticos e levantem seus gritos de liberdade, manifestem sua alegria, seu orgulho por estar resgatando sua história, suas raízes e reconquistando suas terras.

Um grande abraço, a equipe de AACADE (Associação de apoio as comunidades afrodescendentes)


Festa da Consciência Negra em Caiana dos Crioulos (2006 e 2014)

Festa da Consciência Negra no Matão (2014) e em Paratibe (2009) 

Festa da Consciência Negra em Pedra d'Água (2012 e 2013) 

Duas terras quilombolas são tituladas pelo Incra: são as primeiras titulações do Incra em 2015.

Em outubro, foram tituladas as duas primeiras terras quilombolas pelo governo federal em 2015: Marambaia, localizada na Ilha de Marambaia, no estado do Rio de Janeiro, e Castainho, no município de Garanhuns, em Pernambuco.
No mês passado, também foram publicadas as Portarias de Reconhecimento de Mandira (Cananéia -SP) e Mormaça (Sertão - RS), além do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) de Curuanhã (Estância - SE). Com Marambaia e Castainho, são 4 terras quilombolas tituladas em 2015, sendo duas pelo Incra e duas pelo Iterpa. Atualmente são 158 às terras quilombolas tituladas no Brasil.

Marambaia é titulada como 6 áreas descontínuas.
A titulação de Marambaia tornou-se possível somente após ter sido firmado, em novembro de 2014, Termo de Ajustamento de Conduta entre a Associação de Remanescentes de Quilombos da Ilha de Marambaia (Arquimar), Marinha, Incra e Ministério Público Federal. O termo assegurou a permanência das 124 famílias quilombolas em seu território e também da base da Marinha no local. Porém, a área regularizada é consideravelmente inferior a área identificada pelo Incra em RTID de 2006. Num fato inusitado o relatório de identificação teve sua validade revogada um dia após a publicação. Dos 1.638,0231 hectares da época, apenas 52,99 hectares foram titulados e em seis áreas descontínuas - cinco para moradia e uma para “manifestação cultural e religiosa”, onde é vedada a construção de casas.
A comunidade começou a enfrentar dificuldades para permanecer em seu território e ter seus direitos cerceados nos anos 1980, quando foi instalado na ilha o Centro de Adestramento Militar da Ilha de Marambaia. Os comunitários foram proibidos de continuar realizando as roças de subsistência que sempre cultivaram bem como de construir novas casas e de reformar ou ampliar as existentes.
Em 1988, iniciou-se uma longa batalha judicial da União Federal contra a comunidade. Foram propostas uma série de ações judiciais de reintegração de posse contra quilombolas individualmente. Em algumas delas, os quilombolas foram derrotados e expulsos da ilha. O TAC de 2014 pôs fim a Ação Civil Pública apresentada pelo MPF em 2002 que pedia a suspensão de ações contra quilombolas e que a terra fosse titulada. O termo traça algumas regras de conduta, como, por exemplo, assegura à comunidade a continuidade da prática de suas atividades econômicas tradicionais (como a pesca e agricultura), e garante o acesso dos quilombolas a educação e a saúde. Por outro lado, impõe restrições quanto a quantidade de famílias que podem viver nas áreas tituladas e ao número de moradias que podem ser construídas.

Terra Quilombola Castainho (PE) é parcialmente titulada 
No mês de outubro, os quilombolas de Castainho receberam título parcial de suas terras. Foram regularizados 38,2367 hectares da terra que no total soma 189,7738 hectares. Na comunidade vivem 206 famílias.
Castainho chegou a ser integralmente “titulada” pela Fundação Cultural Palmares na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2000. No entanto, conforme a política daquele governo, não foi realizada a desapropriação e desafetação. Ou seja, essa titulação não assegurou de fato o direito dos quilombolas à propriedade de suas terras. Assim, no governo do presidente Lula, o Incra abriu novo processo para regularização dessa terra, procedendo os tramites necessários para a desapropriação das propriedades.

Redação: Otávio Penteado Coordenação Monitoramento: Lúcia M.M. Andrade Equipe de pesquisa: Otávio Penteado, Carolina Bellinger e Pedro Caíque L. do Nascimento

Fonte: http://comissaoproindio.blogspot.com.br/2015/11/balanco-outubro-duas-terras-quilombolas.html?m=1



sexta-feira, 6 de novembro de 2015

TRONCOS VELHOS – GALHOS NOVOS, o legado intergeracional nos quilombos - a nova exposição de Alberto Banal na Estação Cabo Branco, João Pessoa/PB

Trinta e nove são as Comunidades quilombolas no Estado da Paraíba até agora conhecidas e catalogadas, trinta e sete são as que possuem o Certificado do Auto reconhecimento emitido pela Fundação Cultural Palmares.
A Estação Cabo Branco - Ciência Cultura & Artes já proporcionou a oportunidade de mostrar por meio de exposições, a realidade destas comunidades outrora e ainda em parte hoje esquecidas e excluídas pelo poder público e pela sociedade em geral.
A finalidade desta exposição fotográfica é mostrar duas faces especificas do povo quilombola, a dos idosos, que representa a raiz da tradição (o “antigamente”), e a das crianças, que representa o grande potencial de futuro (o “futuramente”). Enquanto os anciãos (pretos velhos) carregam os valores da ancestralidade e garantem a continuidade da tradição, as crianças constituem uma geração chave e estratégica para o futuro que pode ser o começo de um novo tempo, como também a ultima etapa da dissolução de muitas comunidades. Uma geração que está vivendo e sofrendo o advento da modernidade em todos os seus aspectos, sociológico, tecnológico, antropológico, enquanto a transmissão da cultura tradicional está se perdendo num esquecimento assombroso.
É até claro demais que a sobrevivência das comunidades quilombolas é estreitamente ligada ao reconhecimento e reconquista do seu território e, nisso, a omissão dos Órgãos públicos competentes para isso é culpadamente lamentável.
Ao mesmo tempo estas comunidades não poderão ter um futuro sem a preservação e a revitalização de sua identidade cultural.
A maioria das crianças retratadas nestas imagens participa do Projeto Escrilendo que incentivando o prazer da leitura e da escritura se propõe resgatar e reforçar a identidade cultural nas comunidades quilombolas de Matão, Matias e Pedra d’Água.
O Projeto ESCRILENDO é uma atividade da Associação de Apoio as Comunidades Afro Descendentes da Paraíba – AACADE - em parceria com Casas de Leitura, Casa dos Sonhos e os amigos italianos da Associação UNITI PER LA VITA e do grupo JUST DANCE.


terça-feira, 8 de setembro de 2015

COM ESTAS MINHAS MÃOS: O ROÇADO DE LEONILDA de Luís Zadra

La pelo meio dia estou chegando ao Grilo e na mesma hora Paquinha (Leonilda) vem subindo do roçado, quase escondida debaixo de um chapéu preto, carregando nos ombros um saco de feijão recém colhido. Está feliz pela fartura que está logo abaixo do lajedo onde fica o quilombo do Grilo: feijão mulatinho, feijão preto, milho, jerimum e a fava que está florando. Faz questão de me mostrar seu pequeno tesouro, não tão pequeno, quase dois hectares plantados. Ao perceber seu grande desejo não consigo negar e vamos nós ladeira abaixo, num caminho de pura rocha.
Do alto da para espraiar o olhar para ver a extensão da terra que logo mais os quilombolas vão ocupar, fruto da vontade e da resistência. São quase 200 hectares. Nesta terra os antepassados colheram muita amargura pela escravidão que os sujeitava. O laudo realizado pelos antropólogos do INCRA foi aceito por Brasília que reconheceu o território ao redor do Grilo como território quilombola. O dinheiro já esta liberado para indenizar os proprietários. Leonilda, se chama tudo isto: ela soube enfrentar a arrogância dos donos, e a crítica do povo em geral da cidade que fica bem abaixo do quilombo. Leonilda respira fundo o ar que cheira a milho novo e feijão verde. A lavoura está bonita e farta e, para o fim de semana, Leonilda está organizando um mutirão para apanhar o feijão. “Se tivesse dado mais uma chuva o milho seria bem melhor, mas tá bom, tá muito bom”.
Os olhos de Paquinha brilham e um bocado de mágoas e ressentimentos ficam amenizados pelo roçado já ganho. Foram quatro tentativas de plantio: a última, quase do desespero, deu certo. Nordestino é teimoso: não desiste. Planta, replanta, planta de novo e quando não da, mesmo apela a Deus: “ Deus não quis”. Leonilda é uma mulher franzina, resistente aos muitos sofrimentos e arroubos que a vida lhe proporcionou: marido e um filho dependentes de álcool ao extremo, incompreensões de pessoas da comunidade. É extremamente generosa, dedicada a comunidade.
Com suas mãos plantou muitos roçados, criou filhos, construiu casas, cisternas (ela é pedreira também), organizou a comunidade para melhorar o acesso íngreme do quilombo. Esta mulher de mãos calejadas e pele negra, lavrada pelo sol e os tempos muitas vezes inclementes, não perdeu a capacidade de sorrir, de chorar, de não se conformar com as agruras da vida. Está sonhando com a terra que logo mais vai ser de toda a comunidade. Já pensou como limpar a cacimba, onde vai fazer a horta; “eu gosto do roçado, gosto mexer na terra, plantar, colher, para mim e para os outros”. A cabeça e o coração dela estão aqui e daqui ela não sai. Nunca no passado teria pensado que um dia poderia pisar na terra mãe, liberta e benfazeja.


Voltamos ladeira acima carregando feijão, milho verde e jerimum que ela me presenteia com muito carinho. O olhar se deleita no roçado encravado entre valas e pedras. Terra boa que de tudo da, mas que exige traquejo, teimosia. É o que não falta a esta mulher que está sempre em atividade, que as vezes amarga grandes sofrimentos mas que não perdeu o brilho dos olhos.
Eu gosto deste povo que tem um apego a terra, ao seu torrão onde os antepassados viviam escravizados pelos donos da terra que cobravam o foro e ainda exigiam que fosse deixado para os bichos da fazenda o que sobrasse depois da colheita. Este vai ser o capitulo final desta história passada que só trouxe amarguras: logo que tiverem colhido os legumes deverão deixar a palha para o gado do dono, pela última vez, a menos que a terra seja paga logo mais. Poucos acreditavam que este desfecho feliz poderia dar certo. Este povo sempre teve que engolir calado ofensas, desprezo e açoites.
Como a terra do quilombo Bomfim, esta também poderá ter nova vida, coberta de roçados, hortas e pomares, onde um povo liberto poderá plantar a vontade e colher do seu suor sem entregar aos donos uma parte do trabalho. Poderão sim partilhar com os mais fracos, não mais na marra, mas pela capacidade que ainda teima em viver no coração de muitos pobres.

sábado, 23 de maio de 2015

Uma bela parceria entre a Escola de infância Sagrada Família (Itália) e o projeto Escrilendo quilombola (Paraíba - Brasil)

Para comemorar dignamente os 100 anos de atividade a Escola de infância Sagrada Família de Arese (Itália) escolheu de realizar uma atividade de solidariedade escolhendo como parceiro beneficiado o projeto Escrilendo quilombola na Paraíba.
A Escola de infância Sagrada Família é uma instituição histórica muito querida na sua cidade atendendo centenas de famílias que procuram um serviço de qualidade para as suas crianças. Escrilendo quilombola é um projeto que visa promover o amor pela leitura e escritura nas crianças de três quilombos na Paraíba: Matão, Matias e Pedra d'Água. O projeto é uma atividade da AACADE - Associação de apoio as comunidades afro descendentes da Paraíba e conta com o apoio da associação "UNITI PER LA VITA" de Arese (Itália).
Depois de alguns meses de preparação, no dia 29 de abril, foi realizada na escola uma festa "ítalo-brasileira" a qual eu tive a honra e o prazer de participar. No final me foi entregue um grande envelope com os desenhos que as crianças tinham preparado para as crianças quilombolas.






De volta ao Brasil visitei as três unidades do projeto Escrilendo e entreguei os desenhos explicando de onde estavam chegando e os motivos deste envio.
Nas fotos a seguir os vários momentos da entrega do correio: momentos belos e emocionantes de verdade. A próxima etapa será a entrega as crianças italianas dos desenhos que nas próximas semanas serão realizadas pelas crianças quilombolas.

Projeto Escrilendo quilombo Matão




Projeto Escrilendo quilombo Pedra d'Água


Projeto Escrilendo quilombo Matias