quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Presidente da Fundação Palmares demite diretores negros por telefone

Conheço alguns quilombolas que votaram em Bolsonaro. Será que estão entendendo as consequências nefastas deste apoio?

Presidente da Fundação Palmares demite diretores negros por telefone

“Vou seguir a linha do secretário Alvim”, declarou Sergio Nascimento, citando o diretor teatral demitido por apologia ao nazismo  


Sérgio Nascimento de Camargo - Foto: Facebook
Por Redação

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo, sob o argumento de que precisa “montar uma nova equipe de extrema direita, retirou dos cargos “negros com reconhecida trajetória em políticas públicas em prol da cultura afro-brasileira”. “Vou seguir a linha do secretário Alvim”, declarou aos diretores.

A medida extrema teria sido tomada sem o aval de Regina Duarte. “Ele corre para fazer tudo que pode contra negros antes de ela entrar”, afirmou um funcionário.

Entre os demitidos estão os responsáveis pela Diretoria de proteção Afro-brasileira (DPA), Sionei Leão, Diretoria de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira (DEP), Clóvis André da Silva, e Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (Cenirp), Kátia Martins.

Os servidores da Casa afirmam que todos foram contratados nessa atual gestão e com indicação de políticos ligados a Jair Bolsonaro. Grande parte não é “necessariamente de esquerda ou de direita, são técnicos, apenas”, afirmou uma fonte.

De acordo com Clóvis Silva, a ligação de Sérgio Camargo aconteceu por volta das 10 horas da manhã desta quarta-feira. “Fomos pegos de surpresa. Ninguém esperava. O presidente já estava a autorizado a retornar. Mas somente chegou na quinta (19) e estava tudo calmo”, contou. Ele, que já foi secretário da Igualdade Racial em Porto Alegre, chegou na Fundação em setembro de 2019 e diz que nunca participou de qualquer movimento de esquerda. “Sou um técnico. Direito social é progressista. Não sei onde ele incluiu extrema direita no debate”, estranhou.

Por meio de nota, a Fundação Cultural Palmares (FCP) comunica que seu presidente, Sérgio Camargo, “no direito e exercício de sua função se organiza para trazer a sua equipe tendo como objetivo o cumprimento da missão institucional”.

27 DE FEVEREIRO DE 2020, 08H59 
Fonte: https://revistaforum.com.br/politica/presidente-da-fundacao-palmares-demite-diretores-negros-por-telefone/?fbclid=IwAR1ZJiFw6x3tvX0AZb7ch_dMhBveZNWkqqjmzLH1FNb5NlW0kD1Y0GYYRM4

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

ESTA TERRA É NOSSA! UM DIA ESPECIAL PARA CAIANA DOS CRIOULOS

por Luís Zadra - AACADE

De longe se escutam os fogos pipocar anunciando a alegria pela posse da terra deste povo que tempo demais esperou por este momento. Embalados pelos zabumbas com Nalva e Cida animando os cantos e dando ritmo dançante à caminhada, o povo quilombola da Caiana desce a serra, seis quilômetros sob o sol escaldante das duas da tarde, para em cortejo tomar posse da terra. Nem as pedras do caminho sinuoso da serra, nem o sol inclemente desanimam esta pequena romaria que avança levando uma faixa com a imagem de Zumbi dos Palmares e de Santino, figura simbólica da Caiana.



Todo mundo embalado pela magia do momento. No pátio da Casa-Grande muita gente espera pelo cortejo que avança virado pela animação e forte emoção: o amplo terreiro está brilhado de limpo, recém varrido como acontece nos terreiros das casas no dia de festa e a sombra de uma arvore secular. espera pelos caminhantes.
A moldura deste quadro está perfeita: as colunas da casa grande com sobrado, o terreiro, os enormes muros de pedra que sobraram do engenho, as arvores antigas e generosas de sombra, tem até um enorme pau brasil, e agora as figuras coloridas do quadro que acabam de chegar.


O quadro agora mudou porque mudaram as personagens que o povoam. A moldura ficou: a terra, as arvores, os restos do que foi o cativeiro: bem que ficou de pé o imponente bueiro, testemunha e sentinela do passado. Saíram de cena os poucos donos brancos que aqui dominaram um povo escravizado e rostos de negros e negras brilhando de alegria agora dominam a cena.
A terra é nossa! Finalmente! Tem ainda quem duvida: este povo foi sempre enganado e a dúvida permanece. Como pode acontecer uma coisa dessa? Mas aconteceu e a partir do traquejo na terra que o povo vai sentir sua, nascerá uma nova motivação.
Dona Bina, negra idosa de mãos calejadas pela labuta no roçado, rosto surrado pelas agruras da vida mas de olho vivo, muito acanhada, é chamada no meio: ela que sempre plantou nesta terra mas à condição de deixar o roçado depois de colhida a fava (aqui se planta a melhor fava da região) para o gado dos donos, agora sabe que vai ser dona do que é seu e gado nenhum vai perturbar sua lavoura. Ela não diz uma palavra, mas sua presença é palavra.




Várias falas motivam o momento. A mais esperada é a do oficial de justiça que imite na posse o INCRA que depois a repassará aos quilombolas. O momento é solene e o povo sente que finalmente este direito sagrado lhe é reconhecido. Não é fácil passar da condição de excluídos da terra que testemunhou um passado doloroso, a donos desta mesma terra. Precisa tempo, mas as dúvidas não seguram as lagrimas de alegria que escorrem nos rostos negros.


A terra não será dividida: será uma escritura única para que o quilombo possa sobreviver com seu território intacto. Tudo será decidido no quilombo, para o bem de todos, a forma de uso desta terra, sem donos e sem capangas. Acredito que a mãe terra está em festa por este momento em que seus filhos poderão desfrutar do seu abraço aconchegante. O inverno está chegando e sementes serão lançadas, as sementes da liberdade e frutos abundantes e livres serão colhidos. Outras falas se seguem, da Paraíba, do lugar, de Brasília, muitas palmas. A voz forte e emocionada de uma quilombola salienta o significado da conquista da terra e dá o tom deste dia.


Uma favada a moda da Caiana é servida já no fim das falas, para dar o sabor de como será gostoso o futuro. E muita dança, ciranda e os zabumbas ecoando a mãe África. Nisto tudo sobressai poderosa a força da mulher quilombola que foi a guardiã da história do lugar, que segurou as pontas, de mãos calejadas sem perder a ternura e enfeitando os dias dançando, muitas vezes varando as noites tranquilas da serra.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

IMISSÃO DE POSSE DO QUILOMBO CAIANA DOS CRIOULOS NA FAZENDA SAPÉ - 03/02/2020 FINALMENTE A TERRA!

O pronunciamento de Edinalva Rita do Nascimento, presidenta da Associação do quilombo Caiana dos Crioulos

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Esta terra que estamos pisando, finalmente é nossa.
Demorou, mas chegou este dia. Foram muitos anos de espera, de dúvidas, decepções. Mas agora estamos pisando (convida todo mundo a pisar com força) aquilo que nos pertence. Nossos antepassados trabalharam aqui e derramaram suor, sangue e lagrimas por serem escravizados. Nos deixaram esta herança que nunca nos foi reconhecida.
As pedras e as paredes do Engenho e da Casa Grande guardaram os gritos de dor dos corpos martirizados do nosso povo em nome do preconceito, ganância e desamor. Mas um cidadão chamado Luís Inácio Lula da Silva, depois de ouvir os protestos dos Quilombolas do Brasil, no vinte de novembro de 2003, como presidente promulgou o decreto 4887 que reconhecia e regulamentava os territórios quilombolas, garantindo o direito sagrado aos descendentes dos escravizados de possuir sua terra.

O caminho foi longo e complicado: até agora somente SENHOR DO BOMFIM (Areia) e GRILO (Riachão de Bacamarte) conseguiram este direito. Agora é nossa vez. Tem mais quarenta comunidades quilombolas na Paraíba que estão na lista de espera.
Temos que agradecer a resistência dos nossos antepassados, os movimentos quilombolas, as muitas pessoas da Caiana e de fora que acreditaram que isto era possível. O ministério público federal-MPF- e a Defensoria Pública da União – DPU - tiveram um papel fundamental como também as profissionais do setor quilombola do INCRA. AACADE e CECNEQ estiveram sempre presentes nesta jornada.
Apesar de tanto desmantelo em que se encontra nosso país, ainda tem muita gente seria que acredita na justiça e na igualdade. O caminho da libertação da escravidão é comprido: nesta luta muita gente tombou, foi esmagada e silenciada. Infelizmente ainda hoje isto acontece. Este aqui é um passo rumo a libertação. Ainda tem muito preconceito contra os negros, os pobres: nossos direitos custam a chegar. As políticas públicas estão sendo destruídas. Nosso país, por meio de muitos de seus representantes, nos coloca de lado, nos considera inferiores.
Este é o momento de afirmar e gritar nossa dignidade, nosso valor, nossos direitos: existimos e queremos vez e lugar. Tudo se conquista com consciência e luta. VIVA A NOSSA TERRA, VIVA A CAIANA DOS CRIOULOS, VIVA OS QUILOMBOS.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Imissão de posse Quilombo Caiana dos Crioulos

3 de fevereiro de 2020.
Depois de mais de 20 anos de luta e espera, finalmente o quilombo Caiana dos Crioulos, é imitido na posse do seu território.


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