A história da Comunidade Quilombola do Matão e das lutas de seu fundador Manoel Rufino pelo direito à terra e ao trabalho digno passou a ser gradativamente atravessado por um tempo presente marcado por tecnicidades do digital. Esta problemática e modo de “ser e estar” no mundo (GOMES, 2006) é tensionada por seus descendentes desde a implementação de um programa de inclusão digital e de acesso aos meios (GESAC, 2013; TCU, 2015; FELTON, 2018; VAN DIJCK, 2013) nas comunidades negras. Ao direcionar esforços e lentes de análise para o fenômeno comunicacional, o presente estudo realiza esforços no sentido de compreender como estas ofertas postas em circulação (ROSA, 2016; BRAGA, 2015) no meio Facebook dinamizaram os sentidos ofertados pelo jovem quilombola nesta rede social. As matrizes e marcas a serem encaminhadas buscam esclarecer o problema da pesquisa: “Como as representações imagéticas e identitárias do jovem quilombola se atualizam e se constituem a partir das temporalidades e dinâmicas performáticas na circulação no meio Facebook?”. Desta pergunta, um aspecto mais amplo objetiva compreender como as ofertas postas em circulação no meio Facebook transmuta e dinamiza os sentidos ofertados pelo jovem quilombola do Matão. A análise do empírico extraído, sob vieses netnográficos (KOZINET, 2014), descreve os percursos, marcas e dinâmicas enunciativas das representações imagéticas desses jovens. O banco de dados das seis coleções do empírico remonta o processo tentativo que, em um primeiro nível, investigamos como estes jovens quilombolas acionaram tais meios, modos e operações (FAUSTO NETO, 2014) do processo interacional no digital; e, em segundo nível, descrever os desdobramentos dos vínculos do “local” e do “global” que se articularam em novas narrativas e identidades/perfis, processo este, observado por movimentos perambulantes de “idas e vindas”. O primeiro conjunto da tese apresenta e introduz o fenômeno comunicacional implementado na comunidade quilombola, acionando movimentos de contextualização e de percepção do espaço/local da pesquisa. O segundo conjunto descreve os modos e operações nos quais o território físico dialoga em um intenso conflito por referencialidades no digital. Dessa forma analisa o fenômeno da midiatização e do imagético em disputa por referencialidades, onde, o jovem quilombola ao se conectar à ambiência digital é afetado pelo encontro com este “outro” no Facebook. Tal fenômeno é acionador de movimentos singulares que, analisados na coleta dos dados sinalizaram para este totem (ROSA, 2012) simbólico perambulante, é representado pelo espaço geográfico, local da ancestralidade, do pertencimento e resistência.
sábado, 1 de maio de 2021
Nas dinâmicas do Facebook: experimentações, usos e apropriações por jovens quilombolas do Matão - Tessarotto, Marco Antônio de Oliveira
Os nossos parabéns a Marco Antônio de Oliveira Tessarotto pela sua tese de doutorado.
sexta-feira, 30 de abril de 2021
Finalmente a chuva - Finalmente la pioggia - por Luís Zadra
FINALMENTE A CHUVA
Há dias estávamos esperando pela tão desejada chuva: o céu tem sido generoso. O dia fatídico para os agricultores do Nordeste brasileiro é o 19 de março, festa de São José. Se chove nesse dia ou nos dias vizinhos é sinal de uma boa estação chuvosa.
No quilombo Matão começamos a arar a terra, mas tivemos que suspender porque a chuva tinha sido pouca. Eu tinha levado mais de cem mudas de abacate e pinha, mas decidi esperar o momento mais oportuno para plantá-las. Enquanto isso já tinha encomendado algumas centenas de plantas de manga, limões, tangerinas, laranjas etc.
Mas o Zeca acabou de me ligar que ontem à noite choveu e que ainda hoje está chovendo.
O trator está de volta e assim nos próximos dias será concluída a semeadura de milho, feijão e fava. Já falei com Luís, um engenheiro agrónomo que vai nos ajudar a organizar a plantação do pomar e da horta. Para os quilombolas é uma experiência nova. Antes eles não tinham a terra e tinham que pagar o aluguel ao fazendeiro para um cultivo de subsistência. Afundei meus pés descalços na terra junto com o pequeno grupo que estava comigo no primeiro arar: satisfação e sentimento únicos. Terra esperando pela boa semente. Estou feliz com eles porque o sonho está se tornando realidade. O ritual da terra frutífera que se abre para a vida e que dá mais vida àqueles que há muito esperaram. Estou quase mais feliz do que eles: muitas vezes telefono para saber se choveu. A raiz camponesa, graças a Deus, permaneceu e me permite desfrutar das pequenas coisas.
Em vez disso, no Grilo, não deu certo com a escavação do poço para a horta. A broca furou duas vezes até 40 metros de rocha pura, mas nenhum sinal de água foi encontrado. Vamos ter que procurar mais fundo.
Mas de todas as formas não vamos desistir e a pequena represa que começa a coletar água da chuva vai ajudar.
Sinto-me obrigado a compartilhar com aqueles que nos apoiaram os pequenos passos de uma jornada que não vai parar. Assim que vejo alguém que quer tentar algo novo, eu encorajo-o e ajudo em nome de vocês também. Porque a vida é feita de pequenos passos, tentativas às vezes difíceis, mas ainda abertas para o futuro.
Zefinha está sempre na primeira fila com as mãos forjadas pela enxada e uma vida não fácil, mas que não tirou seu sorriso e risadas altas. Além da chuva, uma dose de esperança e humanidade permitirá uma boa colheita. A terra está bem descansada e promete bem; 40 são os hectares de arados.
Voltei ao Matão para ver o trabalho do trator. Na porta de sua casa olhando para a lavoura peço a Luzia notícias de Zefinha e ela espalhando o braço me aponta um ponto no meio do campo recém-arado: é Zefinha semeando sua boa semente. Zefinha é apaixonada pela terra que agora é livre e para todos.
Da giorni aspettavamo la tanto desiderata pioggia: il cielo è stato generoso. Il giorno fatidico per i contadini del nordest del Brasile è il 19 marzo, festa di S. Giuseppe. Se piove quel giorno o nelle giornate prossime è segno di una buona stagione delle piogge.
Al quilombo Matão abbiamo iniziato ad arare la terra, ma abbiamo dovuto sospendere perchè la pioggia era stata scarsa. Ero andato a portare più di cento piantine di avogado e pinha ma abbiamo deciso di aspettare il momento più opprtuno per piantarle. Nel frattempo ho già ordinato alcune centinaia di piante di mango, limoni, mandarini, aranci ecc. Ma il Zeca mi ha appena telefonato che ieri sera è piovuto e che anche oggi sta piovendo.
Il trattore è di nuovo all´opera e cosi i prossimi giorni si completerà la semina di granoturco e vari tipi di fagioli. Ho già parlato con Luis, un agronomo che ci aiuterá a organizzare la piantagione del frutteto e l´inizio dell´orto.
Per i quilombolas è una nuova. Prima non avevano la terra e dovevano pagare un affitto al fazendero per una coltivazione di sussistenza.
Ho affondato i piedi nudi nella terra insieme al gruppetto che giorni fa era con me alla prima aratura: soddisfazione e sensazione uniche.Terra che aspetta il buon seme. Sono felice con loro perchè il sogno si sta realizzando. Il rituale della terra feconda che si apre alla vita e che donerà più vita a chi ha tanto atteso. Sono quasi piu felice di loro: spesso telefono nelle comunitá per sapere se è piovuto. La radice contadina, grazie a Dio, mi è rimasta e mi permette di godere per le piccole cose.
Invece al Grilo non è andata bene con il pozzo per l´orto. La trivella ha forato per due volte fino a 40 metri di pura roccia ma di acqua nessun segnale. Dovremo cercare più in profonditá. Ma in tutti i modi non si desiste e la piccola diga che inzia a raccogliere l´acqua piovana provvederá.
Mi sento in obbligo di condividere con quanti ci hanno appoggiato i piccoli passi di un cammino che non si fermerá. Appena vedo qualcuno che vuol tentare una cosa nuova lo incoraggio e lo aiuto anche a nome vostro. Perchè la vita è fatta di piccoli passi, tentativi alle volte stentati ma pur sempre aperti al futuro.
Zefinha è sempre in prima fila con le sue mani forgiate dalla zappa e da una vita non facile ma che non le ha tolto il sorriso e la risata fragorosa. Oltre alla pioggia una dose di speranza ed umanitá permetteranno un buon raccolto. La terra è ben riposata e l´insieme promette bene; sono quase 40 ettari arati.
Sono tornato al Matão per vedere il lavoro del trattore. Sulla soglia della sua casa che guarda a valle chiedo a Luzia notizie di Zefinha e lei stendendo il braccio mi indica un puntino nel bel mezzo del campo appena arato: è Zefinha seminando la sua buona semente. Zefinha ha la passione per la terra che ora è libera e per tutti.
quinta-feira, 29 de abril de 2021
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