terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A CASA DA MULHER QUILOMBOLA no quilombo Grilo

Em cada casa uma mulher, em cada mulher um sonho. Em cada sonho um desejo. Uma vontade comum. E fui assim tomando café em cada casa. Dormindo em suas noites de sonhos. Fui tecendo suas graças, suas dores, suas esperanças, suas cores brilhantes de negras. Suas crenças misturadas.

Em cada casa “quatro paredes” gerando em cada mulher uma busca. “E se a gente se juntasse para fazer nascer uma CASA para as mulheres quilombolas?”

Para esta pergunta uma resposta firme: “Queremos muito! Viemos de tão longe até aqui. Já se foram nossas tataravós. Deixando em nós uma herança dos chicotes de couro cru que já se foram e uma força em nosso corpo, em nossa pele, em nossos cabelos. Já retomamos com muita luta nossa terra. Agora precisamos nos juntar.”

“Então vamos. Esse sonho é velho. É nosso sonho”.


Então... caminhei ao sol de rachar o “quengo” subindo e descendo as ladeiras e vi a casa. Parece boa e está fechada. Todas aprovaram. Buscamos apoio, conversamos com AACADE, uma organização que apoia quilombolas. Alugamos, ajeitamos, pintamos, varremos e fomos conversando... sonhando... planejando e realizando. Começamos reconhecendo as vontades de cada uma. Ser artesã... trabalhar com as curas naturais... fazer comidinhas mais saudáveis... ficar juntas.

A CASA ficou bonita, cheia de panos, agulhas, tesouras, panelas, argilas, tintas, comidas, crianças, adolescentes, sorrisos, gargalhadas, curiosidades, estudos, sonhos crescendo...

“Vamos aprender mais. Vamos ensinar muito. Vamos nos juntar. Vamos nos curar umas às outras e convidar nosso companheiros a conhecer a proposta da CASA.”

"Vamos plantar sem agrotóxicos. Vamos reflorestar nossa terra. “Trazer amor e espaço bonito para nossas crianças”.

“Convidar mais mulheres. A casa é nossa”.

“Então vamos celebrar. Vamos abrir para a comunidade toda conhecer”.

“Vamos fazer um bazar com as roupas que nos doaram e com nosso artesanato inicial. Já produzimos mais de 50 peças diferentes”.

Aconteceu! Foi uma bela festa! A CASA ao som de gargalhadas, falas e ideias!

Maria Brasil








sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O poço do quilombo Matão: uma história infinita

O problema da água (falta de água) é uma característica de milhares de comunidades do Nordeste do Brasil, entre elas a do Matão no município de Gurinhém.
Como sempre o descaso dos administradores públicos faz parte integrante da questão, mas, as vezes, a mesma sujeição histórica do povo contribui para a demora em buscar soluções. Felizmente o desenvolvimento da consciência dos seus direitos está mudando o rumo das relações entre o povo e os administradores públicos.

Acho interessante rever uma parte desta história no quilombo Matão.
Em 2009 já várias cisternas existiam na comunidade graças ao programa "Um milhão de cisternas" do governo Lula. Mas por causa de uma dura estiagem já todas estavam vazias e o único poço (de água salobra, mas útil para muitas incumbências) não estava funcionando há dois meses por causa de um problema elétrico.
Naquele período estava dando aula de fotografia a um grupo de jovens e, assim, no dia 6 de dezembro, fizemos o registro da situação e procuramos um contato com o Correio da Paraíba que publicou uma matéria no dia 8.




O efeito? Dois dias depois o poço voltou a funcionar; não por um milagre, mas pelo simples motivo que a prefeitura correu a consertar o quadro elétrico.

No mês de abril de 2012 o poço quebra de novo e, desta vez, a comunidade começa a se mobilizar. Uma denúncia gravada por um quilombola fez parte da estratégia de pressão, a qual deu certo e depois de algumas semanas o poço foi concertado.

para assistir ao vídeo clicar na imagem

No mês de julho de 2017 mais um problema no quadro elétrico do poço e mais uma vez passam meses sem nenhum tipo de intervenção por parte da prefeitura. As queixas começam a se tornar públicas com um post no Facebook no dia primeiro de outubro e um sucessivo vídeo de denúncia (3 de outubro).


para assistir ao vídeo clicar na imagem

Muitas curtidas e vários comentários demostram como o problema seja grande, mas também como a consciência dos seus direitos seja clara nos membros da comunidade.


O que em três meses não foi possível, quem sabe porquê, aconteceu em poucos dias e imediatamente o poço voltou a funcionar.

Nem dois meses deu para aproveitar da água do poço porque de novo houve um problema elétrico. E desta vez o povo não ficou calado começando cedo a se mobilizar e pedir ajuda também a instituições de apoio como AACADE.

Com efeito Francimar Fernandes Zadra (AACADE) publica no Grupo Rota Turismo quilombola a seguinte mensagem:

  • 07/12/17, 08:42 - Francimar: SOS MATAO! A Pedido da Comunidade Quilombola do Matão venho comunicar a situação precária e para ser fiel a quilombola Zefinha em estado de calamidade pela falta de água. O único poço existente na comunidade que é de responsabilidade do município sua manutenção há mais de uma semana está com problemas e por isso não vem abastecendo a comunidade. Os moradores estão tendo que ir pegar água a longas distâncias e de duvidosa qualidade. As crianças indo p escola sem banho. "É um desespero só diz, as mulheres" Pediram os que têm parente na comunidade de Manipeba para hoje ir lavar algumas roupas lá. 
  • Porque estou escrevendo também aqui? Zefinha e outras mulheres dizem elas não ter como colocar na rede social para ver se alguém faz algo para ajudar no fim dessa situação. Foram feitos vários pedidos por parte da comunidade a prefeitura. Eles não estão calados nem inertes diante desse problema. A questão é que não sendo ouvidos e/ou levados a sério. 
  • Da nossa parte AACADE assim que fiquei sabendo agora de manhã já liguei para o secretário de infraestrutura que já tinha conhecimento dos fatos e segundo ele quando chegar em Gurinhém vai ver o que fazer. Estamos tentando falar com o gestor - prefeito. O que me pediram foi para articular a imprensa para relatar a situação. Não tenho contato com imprensa da área de Campina. Se alguém tiver e puder articular seria bom. 
Quase em contemporânea Adriana Santos posta um recado no Facebook:



No entanto as articulações avançam rapidamente:
  • 07/12/17, 09:02 - José Maximino‬: Bom dia. De fato, a situação é desesperadora, calamidade mesmo, os órgãos responsáveis já foram informados, e até agora não tivemos uma resolutiva da situação. 
  • 07/12/17, 09:16 ‪- José Maximino‬: Acabei de receber a informação que uma equipe do município está indo hoje na comunidade. 
  • 07/12/17, 09:30 - Francimar: Pois é Jose, o secretário me comunicou que estava providenciando. É preciso de chagar ao " fundo do poço" para se resolver algo simples que está fora dele. Sabe qual problema de toda essa situação pelo que entendi um eletricista fazer um reparo no quadro de energia que foi trocado. Imagina aí! 
  • 07/12/17, 09:46 - Francimar: A pedido de alguns quilombolas repasso o registro feito agora pela manhã.


para assistir ao vídeo clicar na imagem

07/12/17, 17:18 – José Maximino: Equipe do município consertando o Poço artesiano da comunidade. O qual voltou a funcionar! 

Foto: José Maximino
07/12/17, 17:20 - ‪José Maximino‬: E irá reestabelecer o abastecimento de água, através de carro pipa. 

Um jeito de confirmar que não estava mais funcionando (ver comentário de um morador no Facebook):

Fim da história. Cada um pode tirar as suas conclusões.