quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

LUTAR NÃO FOI EM VÃO. O QUILOMBO MATÃO RESGATA SUA TERRA por Luís Zadra

Hoje de manhã tivemos a alegria de assistir a imissão de posse da terra do quilombo Matão. Se passaram quase 10 anos de luta e espera a partir do laudo antropológico que reconhecia a legitimidade do sonho da comunidade em ter seu território de volta. 
O oficial de justiça junto aos representantes do INCRA entregou na mão da comunidade a fazenda Santo Antônio de 117 hectares. Vai a fazenda e fica a terra do santo dos pobres. A terra volta finalmente aos seus legítimos proprietários. Está bem abaixo da comunidade, um lugar abençoado onde antigamente tinha também um plantio de fruteiras que era fartura para todos. Esta terra cabe todinha no olhar satisfeito e emocionado dos presentes que a observam com carinho. 
Esta terra é nossa é o grito de todos e os tambores do grupo de percussão “oloduMatão” espalha na redondeza o som da ancestralidade de liberdade enquanto uns fogos pipocam para dar voz ao grito reprimido na garganta por muitos anos. 

O Matão foi muito desprezado, mas resgatou nestes anos o gosto de se reconhecer e ser reconhecido. A bandeira dos quilombos erguida no alto de uma cerca é acariciada por um vento manso e testemunha que este lugar agora não tem um dono, tem muitos donos, uma comunidade quilombola de mais de 40 famílias. Enquanto no salão da comunidade procedem os atos oficiais da imissão de posse, uma chuva improvisa presságio de um bom futuro, abençoa esta mãe terra que era cativa e que agora será a mãe de todos: das suas entranhas brotarão sementes, flores e frutos. 

A alegria é grande embora a prevenção pelo covid-19 que ronda também as comunidades quilombolas iniba os abraços e as manifestações do sentimento de satisfação. Será grande a festa, mais adiante. Nos prometemos que com o começo das chuvas bem próximas este baixio ficará verde; plantaremos fruteiras, hortas e voltará a ser o lugar da fartura. 

As mãos de Zefinha e de muitos voltarão a ter calos, calos abençoados que produzirão para si, não mais para um dono. Não será preciso se humilhar a um proprietário para ceder um pedacinho de chão para fazer roçado. Agora a comunidade é dona do seu território, o território da ancestralidade, da identidade. Esta terra fez muita falta, mas agora recebe o abraço dos quilombolas e os abraçará daqui para frente.


Incra chega ao quilombo Matão para fazer a imissão de posse de uma das áreas à comunidade! 


A assinatura dos documentos da imissão de posse. 



A espera é sem dúvida dolorosa, cansativa até desanima, mas quando chega é momento de esperança. Temos certeza de que estávamos no caminho certo e vamos continuar! 


As lutadoras quilombolas Paquinha e Dona Lourdes do quilombo Grilo também estiveram lá. 


Zefinha do Matão compartilha a alegria dessa conquista!


A terra é nossa!

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