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Seu Daniel |
Empunhando seus pontões enfeitados de fitas multicoloridas os “Negros do Pontões” entram em cena dançando com passos ritmados e marcados por uma feição quase ameaçadora e guerreira. Na realidade se trata de uma dança folclórica e as lanças mais se parecem com aspersores abençoando os participantes do que instrumentos de ameaça. Este tipo de dança tem suas origens e estão inseridas nas festividades promovidas pelas irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, devoção mariana que no Brasil colonial sempre foi uma característica da comunidade negra. Em várias cidades do nordeste ainda resistem ao tempo numerosas irmandades do Rosário.
Estamos em Pombal, na Paraíba, a quase 400 quilômetros da capital João Pessoa. Fomos convidados Luis, Francimar e quem escreve para participar a esta festividade que pretende dar novo incentivo a tradição dos “Negros dos Pontões” que ultimamente tem dificuldade em continuar. Ficaram poucos mas os mais idosos conseguiram envolver alguns jovens e a certeza que esta tradição vai brilhar novamente como antigamente, anima a pequena comunidade quilombola dos Daniel. Se trata de um quilombo urbano, situado numa rua íngreme conhecida como a rua dos Daniel. Esta família alargada junto com os Rufinos, outra grande família e comunidade quilombola a uns dez quilômetros de Pombal com quem tem estreitas relações de parentesco, testemunham as origens da escravidão dos negros africanos neste território. É com o suor e o sangue de seus ancestrais que se entrelaça a história e o desenvolvimento de Pombal.
E finalmente, depois de muitos anos de esquecimento e exclusão, estas comunidades afrodescendentes recomeçam a aparecer no cenário público pedindo, embora de forma ainda acanhada, o reconhecimento dos seus direitos por muitos anos negados. E nós com nossa associação AACADE estamos prontos para dar o apoio possível para sua organização e para que tenham acesso as políticas públicas. Por isso a comunidade quer escutar da viva voz de Luis e Francimar as informações sobre as ações que estão sendo encaminhadas a nível estadual, como também sobre a constituição da associação quilombola, direitos e deveres que a nova legislação reconhece as comunidades afrodescendentes. Concluída a pequena assembleia a festa toma conta do espaço como antigamente e todo mundo torce para que este seja o marco e o começo duma nova e bonita história. Viva os negros dos Pontões!
No dia seguinte, bem cedinho conseguimos encontrar e falar com seu Daniel, o patriarca da família dos Daniel.
A memória e a lucidez o tempo castigou um pouco, mas a intensidade do olhar e uma dose de ironia falam o suficiente sobre um passado de sofrimentos e lutas pela sobrevivência.
Francimar e Luis durante o encontro com a comunidade
Os Pontões
A rua dos Daniel
As fotos de lembrança
Amigos!!
ResponderExcluirParabéns pelo blog e pelo trabalho em defesa das tradições dos negros do nosso estado!
Realmente precisamos resgatar a nossa história,pois se não conhecermos o nosso passado,não temos como entender o presente ,nem pensar num futuro melhor...
Abração!
Paulo Romero.
Meliponário Braz.
faço parte dessa história ♡Sou quilombola
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