quinta-feira, 26 de abril de 2012

Quilombos da Paraíba - Introdução

O trabalho de identificação e reconhecimento das comunidades quilombolas é um capítulo aberto de um grande livro, de outra história a ser escrita no Brasil. Reconstruir e recontar a história do lugar e das famílias quilombolas é fazer sangrar feridas. Muitos não gostam de remexer no passado porque isto traz à tona a dor e a amargura.Diante disto, qualquer pessoa que se disponha a estudar tais comunidades precisa entender que sua contribuição deverá se dar no sentido de contribuir para resgatar a identidade da comunidade estudada e não apenas de catalogar ou descrever a forma como estas pessoas vivem e sobrevivem, dentre outros.Conhecer as comunidades quilombolas do Nordeste é adentrar um terreno desconhecido, mergulhando em uma realidade muitas vezes negada, e revisitar a ancestralidade dos afro-descendentes.Na medida em que nos aproximamos da realidade, descobrimos que a Paraíba é pontilhada por comunidades quilombolas, do litoral ao sertão, e que isto exige um trabalho de reconstrução do caminho percorrido pelos quilombolas no Estado.A exposição Quilombos da Paraíba quer testemunhar que o povo quilombola está vivo e quer continuar a viver. Quer também mostrar o trabalho feito pela Associação de Apoio às Comunidades Afrodescendentes (AACADE) que tem como objetivo a conscientização, organização e o desenvolvimento das comunidades quilombolas da Paraíba. Os animadores principais da Associação são: Luis Zadra voluntário italiano, há 38 anos no Brasil, velho amigo de infância que reencontrei depois de muitos anos aqui em João Pessoa, e Francimar Fernandes de Sousa, socióloga paraibana. Foi graças a estas duas pessoas que eu pude conhecer a realidade do povo quilombola da Paraíba e foi possível o empenho para criar um espaço de visibilidade para quem desde sempre se encontrou excluído e ignorado pela sociedade.Quero também salientar a participação ativa do grupo “Fotógrafos de rua”, formado por jovens quilombolas, alunos meus dos cursos de fotografia, com o intuito de contribuir com as suas fotos a criar uma comunicação “de dentro para fora” da sua realidade.Esta exposição é somente uma pequena contribuição no intuito de apresentar esta realidade, desconhecida a muitos, e que está impregnada de histórias de opressão e pobreza extrema, mas também é testemunho vivo de valores e tradições zelosamente conservados.Os lugares e os rostos revelam a profundidade da alma deste povo.
Alberto Banal

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