sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Inauguração da Sede Administrativa da CECNEQ - Paraíba


No dia 24 de novembro de 2023 na cidade de Catolé do Rocha, em evento alusivo às comemorações da semana da Consciência Negra, o Movimento Quilombola da Paraíba inaugurou seu espaço físico próprio, numa parceria celebrada com a Prefeitura Municipal local. O evento contou com a participação de diversas autoridades, tanto do município, estado e também do governo federal. 

A sede está localizada em um local estratégico no Sertão Paraibano, região essa, que concentra um grande número de Comunidades Quilombolas da Paraíba, num total de 22 por enquanto. O município sede possui 4 Comunidades Quilombolas, Lagoa Rasa, São Pedro dos Migueis, Curralinho/Jatobá e Pau de Leite. 

Na ocasião do evento foi apresentada a Comenda “Quilombos da Paraíba”, criada pela Coordenação Estadual, com o objetivo de homenagear as lideranças quilombolas, pessoas não quilombolas e entidades públicas e /ou privadas que tenham serviços relevantes na defesa dos direitos das comunidades quilombolas da Paraíba, durante o ano em vigor ou mesmo durante sua existência. 

Nesse momento foram homenageados (as), o Procurador da República na Paraíba, o senhor José Godoy, representando o Ministério Público Federal, Francimar Fernandes, representante da Associação de Apoio aos Assentamentos e Comunidades Afrodescendentes - AACADE, Lídia Moura, Secretária de Estado da Mulher e Diversidade Humana - SEMDH, e o senhor Lauro Adolfo Maia Serafim, Prefeito Constitucional do município de Catolé do Rocha, estado da Paraíba. 

Para o presidente da CECNEQ-PB, José Amaro: “foi um momento importante para nossa entidade, pois depois de 15 anos o Movimento Quilombola da Paraíba, pode ter um prédio físico para realizar seus planejamentos, desenvolver suas atividades, promover suas reuniões, ser vitrine de divulgação das produções das comunidades quilombolas (artesanatos, artistas, comidas e etc..) de todos os Quilombos da Paraíba.” 






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quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Catolé do Rocha vai sediar no dia 25/NOV Festival de Cultura Quilombola "Aquilomba Paraíba - 2023"


Na sexta-feira (24/11), acontece a inauguração da sede da Coordenação Estadual das Comunidades Negras e Quilombolas da Paraíba (CECNEQ), em imóvel cedido pela Prefeitura de Catolé do Rocha, e o III Simpósio "Todos Somos Um". 

O Festival de Cultura Quilombola "Aquilomba Paraíba - 2023" e o III Simpósio "Todos Somos Um" serão realizados no Centro Estudantil de Cultura 'Geraldo Vandré'.

MPF participa de atividades alusivas ao Dia da Consciência Negra na Paraíba

Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão destacou necessidade de se implementar políticas públicas efetivas para a população negra no estado 


Foto de cinco pessoas em apresentação cultural diante de auditório lotado. Fotos: Comunicação/MPF e Governo do Estado 

O Ministério Público Federal (MPF), por meio da procuradora regional dos Direitos do Cidadão, Janaina Andrade, participou de eventos alusivos ao Dia da Consciência Negra, nesta segunda-feira (20 de novembro), em João Pessoa. No início da manhã, na Reitoria do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), a procuradora participou da solenidade de lançamento das Ações de Promoção de Igualdade Racial, uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Mulher e Diversidade Humana. 
Na oportunidade, foi lançado o Guia de Enfrentamento ao Racismo e o Selo de Educação Antirracista.

Segundo a secretária da Mulher e Diversidade Humana, Lídia Moura, hoje ainda vivemos um cenário desafiador de luta contra o racismo estrutural e o governo paraibano vem intensificando suas iniciativas afirmativas. "O lançamento de um guia especializado contendo conceitos sobre os tipos de racismo, locais e importância da denúncia, é mais um mecanismo que nos apoia a compartilhar informações sobre como podemos enfrentar o preconceito e viver com mais justiça racial", disse Lídia Moura, acrescentando que a publicação será uma referência estratégica na execução de políticas públicas, como na Educação, que lançou um curso de capacitação para professores antirracista e o Selo Escola Antirracista, que oferecerá recursos para projetos escolares que fortaleçam a equidade racial. 

A secretária-executiva de Gestão Pedagógica da Secretaria de Educação do Estado, Elizabete de Araújo, disse que o edital do Curso de Capacitação em Educação Antirracista será em parceria com a Escola de Serviço Público do Estado da Paraíba (Espep) e capacitará profissionais da educação para práticas pedagógicas antirracistas nas escolas. 

Quilombo Paratibe – No final da manhã, a procuradora Janaina Andrade representou o MPF em ações no Quilombo Paratibe, também na capital paraibana, promovidas com apoio da Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa. 
A líder quilombola Joseane Santos ressaltou a importância da data como forma de se fazer um resgate histórico e cultural. Ressaltou ainda que o combate ao racismo deve ser constante. 
Já a presidente da Associação de Apoio aos Assentamentos e Comunidades Afrodescendentes da Paraíba (Aacade), Francimar Fernandes, enfatizou que o mês de novembro sempre marca a resistência do povo negro. 
“O 20 de novembro representa também o momento de repensar, e de luta do povo quilombola. Hoje eu estou aqui participando da festa, mas nesse sentido da resistência também. Paratibe ainda não teve todo o seu processo demarcado, e eles estão resistindo a uma pressão muito grande, mas a gente espera que vai dar tudo certo”, declarou Francimar. 

A secretária-executiva de Saúde de João Pessoa, Janine Lucena, esteve presente no Quilombo Paratibe e também ressaltou a importância de lembrar a data. Ela destacou que durante o dia os quilombolas puderam ter acesso ao odontomóvel, com tratamentos dentários, e que a comunidade vem sendo sempre assistida com médicos e outros profissionais de saúde. 
Na ocasião, foi servida uma feijoada aos presentes e feitas apresentações culturais pelo povo da Comunidade Paratibe. 

Todos Somos Um – Além da participação das atividades desta segunda-feira, Dia da Consciência Negra, o MPF destaca a importância da realização do Simpósio Todos Somos Um e Festival Quilombola Paraibano, eventos que discutirão educação, igualdade racial e território, na próxima sexta (24) e sábado (25), em Catolé do Rocha, no Sertão da Paraíba. 
Na oportunidade, será realizada a inauguração, naquele município, da sede física da Coordenação Estadual Quilombola. A programação é uma realização da Coordenação Estadual das Comunidades Negras e Quilombolas da Paraíba (Cecneq/PB) e Governo do Estado da Paraíba. 

Para o presidente da Ceqneq, José Amaro da Silva Neto, os eventos do final de semana em Catolé do Rocha serão de extrema importância para se discutir os direitos das pessoas negras no estado. Ele confirmou que 42 comunidades quilombolas da Paraíba se farão presentes, além de órgãos públicos e representações da sociedade civil. “Teremos a participação do Governo do Estado, do MPF, do Ministério Público Estadual, mais de 30 grupos farão apresentações, serão mais de 1000 quilombolas, teremos feira de artesanato, enfim, são eventos que contemplarão a cultura afro-brasileira e das 49 comunidades quilombolas da Paraíba, que hoje representam mais de 6 mil famílias”, disse. 

Faixas nas unidades - Para chamar a sociedade à reflexão, foram afixadas faixas alusivas ao Mês da Consciência Negra nas unidades do MPF em João Pessoa, Campina Grande e Sousa. Comemorado no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra é uma data necessária para lembrar a sociedade sobre a importância de se discutir questões como o combate ao racismo e à discriminação e a necessidade da promoção da igualdade social. 

Reflexões e ocupação de espaços - A procuradora Janaina Andrade ressalta que o dia 20 de novembro é data que traz reflexões sobre as raízes históricas e culturais da população negra no Brasil. “Quando surge a pergunta se há necessidade de se contar a história negra do Brasil, a resposta é sim. O resgate histórico demonstra a invisibilidade do povo negro que reverbera cotidianamente na tentativa de reduzir a importância da polução negra na gastronomia, na cultura, transformada em racismo recreativo, como também na espiritualidade, transformada em racismo religioso. A realidade, comprovada em estatísticas, mostra a necessidade do MPF participar de espaços que visam promover e discutir questões como igualdade racial, racismo, representatividade, pertencimento, resistência e desigualdades sociais e econômicas”, destacou a procuradora da República Janaina Andrade. 







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Governo Lula reconhece território da comunidade quilombola Pitombeira, na Paraíba

20/11/2023 



(Foto: DIvulgação/Incra-PB) 

    O Governo Federal, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), publicou na edição desta segunda-feira (20) do Diário Oficial da União (DOU) a Portaria Nº 217, reconhecendo e declarando como terras da comunidade quilombola Pitombeira uma área de, aproximadamente, 354 hectares, localizada no Município de Várzea, às margens da rodovia PB 233 (Rodovia Estadual Anísio Marinho), que liga as sedes dos municípios de Várzea e Santa Luzia, na região do Seridó Ocidental da Paraíba. 
    A divulgação do documento finaliza a fase de identificação dos limites do território, distante cerca de 275 quilômetros de João Pessoa, onde vivem cerca de 80 famílias. A próxima etapa é o decreto de desapropriação assinado pelo presidente da República e a desapropriação dos imóveis inseridos no perímetro delimitado pelo Incra. A ação de regularização fundiária se encerra com a titulação em nome da comunidade por meio de um documento coletivo e indivisível. 
    Os títulos garantem a posse da terra, além do acesso a políticas públicas como educação, saúde e financiamentos por meio de créditos específicos. 
    O resumo do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) da Comunidade Quilombola de Pitombeira foi publicado no DOU em junho de 2017. O RTID é peça inicial do processo administrativo de regularização dos territórios quilombolas e é constituída por relatório antropológico, relatório agronômico-ambiental, levantamento fundiário, mapa e memorial descritivo da área e relação das famílias quilombolas cadastradas pelo Incra. 
    O Relatório Antropológico do RTID da Comunidade de Pitombeira foi realizado a partir de contrato de prestação de serviços entre o Incra e a empresa S.A. Consultoria em Gestão de Processos e Qualidade Ltda, atendendo ao Edital 08/2011, de 28 de novembro de 2011. A pesquisa antropológica foi coordenada pelo Professor Doutor em Antropologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Rodrigo de Azeredo Grünewald e teve início em março de 2012. 

Comunidade de Pitombeira 
    Localizada a cerca de 275 quilômetros de João Pessoa, a comunidade quilombola Pitombeira teve origem, de acordo com os dados do relatório antropológico do RTID, com quatro ex-escravos, Inácio Félix, Severino, Simplício e Gonçalo Fogo, que se estabeleceram naquela localidade com suas mulheres na segunda metade do século XIX. O nome Pitombeira deve-se ao fato de que esses casais encontraram ali um grande pé de pitomba, que se tornou referência para o estabelecimento de suas posses. 
    As 69 famílias de Pitombeira se dedicam principalmente à agricultura, com destaque para a fruticultura, com plantações de umbu, caju e banana. As criações de animais são pequenas e servem apenas para subsistência. O artesanato em madeira de umburana e em palha de carnaúba (vassouras, chapéus, abanos e bolsas) funciona como uma atividade complementar à economia da comunidade, assim como o extrativismo mineral, pois, segundo os moradores, a região é rica em minérios como xelita, feldspato, granito, calcário, turmalina negra e calcedônia. 
    Na comunidade, que recebeu energia elétrica apenas em 1999 e ainda utiliza jumentos como meio de transporte de pessoas e de galões de água potável, destacam-se alguns aspectos culturais e de sociabilidade, como jogos de futebol, reuniões, cultos religiosos, aulas de capoeira e forrós. Poetas e músicos da comunidade tocam pífanos e pandeiros, entoam aboios, cocos ou declamam glosas. 
    O evento cultural de maior destaque na comunidade é, conforme o relatório antropológico, a festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos na cidade de Santa Luzia, que, é celebrada pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, entidade religiosa e cultural fundada em 24 de novembro de 1871 na comunidade de Pitombeira. 
    Na mesma época, também em Pitombeira, teria sido realizado o primeiro “tope do juiz”, cavalgada que é o principal atrativo da festa. 

Processo de regularização 
    A missão de regularizar os territórios quilombolas foi atribuída ao Incra em 2003, com a promulgação do Decreto no 4.887, que regulamentou o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata a Constituição Federal em seu Artigo 68. 
    As comunidades quilombolas são grupos étnicos predominantemente constituídos pela população negra rural ou urbana, que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias. 
    Estima-se que em todo o País existam mais de três mil comunidades quilombolas. Para terem seus territórios regularizados, as comunidades quilombolas devem encaminhar uma declaração na qual se identificam como comunidade remanescente de quilombo à Fundação Cultural Palmares, que expedirá uma Certidão de Autodefinição em nome da mesma. 
    Devem ainda encaminhar à Superintendência Regional do Incra uma solicitação formal de abertura dos procedimentos administrativos visando à regularização. 

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NO QUILOMBO DO GRILO



por Luciano Queiroz

    No dia 20 de novembro de 2023, o Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de História da UFCG, em parceria com a Associação do Quilombo do Grilo e as Escolas Manuel Duda e Manoel Joaquim de Araújo celebraram o Dia da Consciência Negra. A programação ocorreu durante todo o dia. 
    Pela manhã aconteceram peça de teatro (Projeto Escrilendo), oficina de desenho, ciranda infantil e um quebra panela. 
    Já na parte da tarde realizou-se uma mesa de debate constituída por lideranças quilombolas: Paquinha, Dona Lurdes e Seu Elias. A mesa discutiu a importância de Zumbi e Dandara dos Palmares bem como do casal ancestral, Manuel Duda e Dona Dôra, como referências de lutas para os quilombolas do Grilo. 
    Em seguida tivemos a apresentação do Projeto Rabeca Sem Vergonha, desenvolvido pelo professor Pádua, da Escola Manuel Joaquim de Araújo e encerrou-se com as apresentações culturais de maculelê e capoeira do Quilombo Pedra D`Água e a tradicional ciranda do Quilombo do Grilo.

    O evento marcou a culminância de um projeto de extensão realizado no segundo semestre de 2023 na Escola Manuel Joaquim de Araújo discutindo o livro didático escrito sobre o Quilombo do Grilo. 

    O Programa PET História da UFCG procura misturar cultura e política apostando em uma educação antirracista e na parceria entre a universidade pública, a escola e a comunidade quilombola. Destaca-se sobre a importância da extensão universitária e da formação política da comunidade.














quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Incra/PB discute com MPF e quilombolas gargalos na regularização de comunidades

    
    Lideranças quilombolas e representantes do Ministério Público Federal (MPF) assistiram, nesta segunda-feira (13), no Gabinete da Superintendência do Incra na Paraíba, a uma apresentação sobre as etapas do processo de regularização dos territórios quilombolas. 
    O objetivo foi sensibilizar os participantes da reunião sobre a complexidade e as dificuldades do processo, que culmina com a concessão de um título de propriedade coletivo em nome da associação da comunidade quilombola. E ainda, discutir meios de garantir recursos financeiros para agilizar o trabalho do Incra. 
    Um dos participantes da reunião, o Deputado Federal Luiz Couto, comprometeu-se a destinar uma emenda parlamentar para o Incra/PB. Os recursos serão utilizados exclusivamente para acelerar as etapas do processo de regularização de territórios quilombolas, conforme o superintendente do Incra/PB, Antônio Barbosa Filho. 
    A apresentação preparada pelas servidoras do Serviço de Regularização de Comunidades Quilombolas mostrou, por meio de números, a existência de gargalos que fazem com que os processos demorem a ser concluídos. Um fluxograma deixou clara a complexidade das etapas de instrução dos processos de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. 

    Na Paraíba, há 47 comunidades reconhecidas como quilombolas, 43 comunidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares, 34 Processos abertos no Incra na Paraíba, 11 Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTIDs) publicados, 8 Portarias de Reconhecimento, 6 Decretos de Desapropriação, 5 Comunidades Imitidas na Posse e nenhuma com o título de propriedade coletivo em nome da associação da comunidade quilombola. 
    De acordo com a antropóloga Fernanda Lucchesi, do Serviço de Regularização de Comunidades Quilombolas do Incra/PB, o primeiro gargalo para a regularização fundiária é a elaboração e publicação dos RTIDs das comunidades, uma peça fundamental do processo. 
    O documento reúne uma vasta gama de informações sobre a comunidade e o território por ela reivindicado e é composto pelo Relatório Antropológico, que aponta os aspectos históricos e socioculturais da comunidade, bem como a relação deles com o território a ser delimitado, pelo Laudo Agronômico e Ambiental, pelo levantamento dominial do território, pelo cadastro das famílias pertencentes à comunidade e pelo mapa e memorial descritivo da área. 
    A complexidade do RTID exige, segundo a antropóloga, recursos humanos e orçamentários de que o Incra não dispõe atualmente. “A contratação externa de RTIDs destravaria os processos e reduziria o tempo que as famílias precisam esperar para terem seus direitos efetivados”, disse Fernanda Lucchesi.  
    Para o procurador da República José Godoy Bezerra de Souza, é preciso que o Incra reforce seus quadros, realize concursos públicos para que possa continuar exercendo sua missão constitucional. “O trabalho do Incra é fundamental porque trata da reforma agrária, da questão quilombola e de diversas outras questões essenciais. Trata de território, e território é a centralidade de direitos. Quando uma comunidade não tem território há uma cadeia de direitos que são negados, como a saúde, a educação e a moradia”, afirmou o procurador. 

    Além do superintendente do Incra/PB, Antônio Barbosa Filho, do chefe da Divisão de Regularização Fundiária e das servidoras do setor quilombola da autarquia, participaram da reunião o coordenador-geral do Escritório Estadual do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) na Paraíba, Cícero Legal, os procuradores da República José Godoy Bezerra de Souza e Djalma Gusmão Feitosa e representantes da Coordenação Estadual das Comunidades Negras da Paraíba (Cecneq/PB), da Associação de Apoio aos Assentamentos e Comunidades Afrodescendentes da Paraíba (Aacade/PB) e de comunidades quilombolas, a exemplo de Paratibe (João Pessoa), Mituaçú (Conde) e Gurugi (Conde). 

Espera prejudica 
    A demora na conclusão dos processos de regularização e da consequente concessão dos títulos de propriedade às comunidades quilombolas vem causando problemas às famílias. 
    O procurador da República Djalma Feitosa destacou que faltam recursos ao Incra para garantir direitos fundamentais aos quilombolas. “O prolongamento da finalização do processo de regularização territorial vem provocando conflitos na zona rural”, afirmou. 
    A presidente da Associação da Comunidade Quilombola de Paratibe, Joseane Santos, acrescentou que a demora para a conclusão dos processos é uma das causas da desistência de lideranças quilombolas. 
    A orientação dos representantes do MPF foi que as famílias, por meio da Aacade/PB e da Cecneq/PB, procurem apoio parlamentar e do ministro do MDA para que a fatia do orçamento do Incra destinada à regularização de territórios quilombolas seja reforçada. 

Áreas do Dnocs 
    Outra questão discutida na reunião foi a regularização de comunidades quilombolas localizadas em áreas do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), nos municípios de Santa Luzia e de Coremas. 
    Fernanda Lucchesi contou que as 125 famílias cadastradas pelo Incra na Comunidade Urbana Serra do Talhado, em Santa Luzia, aguardam, desde 2007, que o Dnocs/PB transfira as terras pleiteadas. Em 2018, o Dnocs declarou a necessidade de autorização legislativa para a destinação de suas terras aos quilombolas. 
    As comunidades quilombolas Barreiras, Mãe D'Água e Santa Tereza, localizadas no município de Coremas, foram deslocadas compulsoriamente de seu território original devido à construção das barragens de Coremas e Mãe D'Água, durante as décadas de 1930 e 1950. 
    Segundo Fernanda Lucchesi, não houve nenhuma política de reassentamento das famílias nos lotes criados pelo Dnocs na bacia hidráulica dos açudes. “É urgente que se encontre uma solução simplificada para a destinação das terras que já são públicas em favor das comunidades quilombolas, como uma determinação ministerial para que o Dnocs regularize as terras em favor das comunidades ou ainda decreto presidencial”, afirmou a antropóloga. 

Processo de regularização 
    A missão de regularizar os territórios quilombolas foi atribuída ao Incra em 2003, com a promulgação do Decreto nº 4.887, que regulamentou o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata a Constituição Federal em seu Artigo 68. 
    As comunidades quilombolas são grupos étnicos que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias. 
    Estima-se que em todo o país existam mais de três mil comunidades quilombolas. 
    Para terem seus territórios regularizados, as comunidades quilombolas devem encaminhar uma declaração na qual se identificam como comunidade remanescente de quilombo à Fundação Cultural Palmares, que expedirá uma Certidão de Autodefinição em nome da mesma. Devem ainda encaminhar ao Incra uma solicitação formal de abertura dos procedimentos administrativos visando à regularização.     A regularização do território tem início com um estudo de vários aspectos da comunidade, que resultam na elaboração do RTID. Uma vez aprovado este relatório, e cumpridas as fases de contestações e recursos, o Incra publica uma portaria de reconhecimento que declara os limites do território quilombola. 
    Se o título de domínio particular que incida nos territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos quilombos não for invalidado por nulidade, prescrição ou comisso, e nem tornado ineficaz por outros fundamentos, será realizada vistoria e avaliação do imóvel para a adoção dos atos necessários à sua desapropriação, quando couber. 
    Após os técnicos da cartografia do Incra fazerem a demarcação e o georreferenciamento do território, é concedido um título de propriedade coletivo, pró-indiviso e em nome da associação aos moradores da área, registrado no cartório de imóveis, sem qualquer ônus financeiro para a comunidade beneficiada.     Os títulos garantem a propriedade da terra, além do acesso a políticas públicas de educação e de saúde e ainda a financiamentos por meio de créditos específicos. 

João Pessoa, 13 de novembro de 2023. 

Fonte: Assessoria de Comunicação Social – Incra/PB 
Kalyandra Vaz (83) 98610-1118 
kalyandra.vaz@incra.gov.br 

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

INCRA reconhece território da comunidade quilombola Fonseca no sertão da Paraíba

Localizada em Manaíra (PB), a área de 135 hectares pertence às famílias da localidade Fonseca. Fotos: Paraíba Criativa

Incra publicou, na edição desta terça-feira (12) do Diário Oficial da União (DOU), a portaria nº 156, reconhecendo e declarando como terras da comunidade quilombola Fonseca, uma área de, aproximadamente, 135 hectares, localizada no município de Manaíra, no Sertão paraibano. 
A divulgação do documento finaliza a fase de identificação dos limites do território, distante cerca de 470 quilômetros da capital, João Pessoa. 

A próxima etapa inclui a desapropriação dos imóveis inseridos no perímetro delimitado pelo Incra. A ação de regularização fundiária se encerra com a titulação em nome da comunidade por meio de um documento coletivo e indivisível. De acordo com o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), publicado pelo Incra em agosto de 2018, atualmente as famílias têm acesso restrito ao território ocupado historicamente pela comunidade. 

Segundo a antropóloga do Serviço de Regularização de Comunidades Quilombolas do Incra na Paraíba, Fernanda Lucchesi, elas passam por uma situação muito difícil devido à escassez de água e à falta de políticas públicas. 

A comunidade 

Conforme consta na pesquisa antropológica integrante do RTID, o mito fundador da comunidade quilombola Fonseca rememora a existência de três indígenas habitantes da localidade – dois homens: Fonseca e Tapuia; e uma mulher: Pedreira – cujos nomes deram origem a sítios próximos. Estes indígenas estariam fugindo de perseguições na região do município de Triunfo, em Pernambuco, e teriam construído cabanas nestes locais por volta de 1832. 

As áreas ainda hoje são de difícil acesso, cobertas e protegidas por serras íngremes de vegetação densa de caatinga e terreno pedregoso, permitindo o refúgio e a visibilidade do perigo à distância. Acredita-se que os perseguidores dos indígenas chegaram à aldeia em 1835, capturando e assassinando apenas Fonseca. Os negros escravizados nas lavouras e fazendas dos povoados e cidades próximas chegaram à localidade – libertos ou não – por volta de 1878. 

Inicialmente, alguns fugidos teriam sido os primeiros habitantes negros do lugar. Outros moradores do Fonseca descendem de ex-escravizados do sítio Pedreira, que trabalhavam nos canaviais e na moagem de cana, bem como no plantio e na criação de gado, e de vários locais, especialmente dos sítios próximos conhecidos por Impueira, Queimadas e Tapuia. 

Os depoimentos sempre reportam à legitimidade da posse de terras no Fonseca, a partir de aquisições monetárias por parte dos negros agricultores, que as repassaram aos seus descendentes por meio de heranças.