domingo, 21 de maio de 2023

Os povos indigena e quilombola protagonistas na Bienal de Arquitetura de Veneza 2023

Brasil ganha Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza Pavilhão brasileiro é destacado com o projeto Terra, dos curadores Gabriela de Matos e Paulo Tavares. É a primeira vez que o Brasil leva a distinção. 


Com curadoria conjunta de Gabriela de Matos e Paulo Tavares, a mostra brasileira conta com a participação de um grupo diversificado de colaboradores, composto por povos indígenas Mbya-Guarani; povos indígenas Tukano, Arawak e Maku; Tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá); Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho); Ana Flávia Magalhães Pinto; Ayrson Heráclito; Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA); coletivo Fissura; Juliana Vicente; Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias. 

A mostra parte de uma reflexão sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil, colocando a terra como o centro do debate, tanto como poética quanto como elemento concreto no espaço expositivo. A dupla de curadores propôs aterrar todo o pavilhão, permitindo que o público entre em contato direto com a tradição dos territórios indígenas e quilombolas e dos terreiros de candomblé. 

Nossa proposta curatorial parte de pensar o Brasil enquanto terra. Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas” (Gabriela de Matos e Paulo Tavares). 

A primeira galeria do pavilhão recebe o nome de De-colonizando o Cânone e busca questionar a narrativa que Brasília, capital do Brasil, foi construída em meio ao nada, ignorando o fato de que os indígenas e quilombolas que habitavam o local já haviam sido expulsos da região desde o período colonial e finalmente empurrados para as periferias com a imposição da cidade modernista. A mostra busca apresentar uma imagem territorial, arquitetônica e patrimonial mais complexa, diversa e plural da formação nacional e da modernidade no Brasil, apresentando outras narrativas por meio de arquiteturas, paisagens e patrimônios negligenciados pelo cânone arquitetônico. 




Com uma variedade de formatos, as obras que compõem a galeria incluem, entre outras, uma projeção audiovisual criada pela cineasta Juliana Vicente, uma seleção de fotografias de arquivo organizada pela historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, o mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola, comissionado especialmente para a mostra. 

Em um momento de grandes desafios enfrentados pela humanidade, realizar a exposição proposta pelos arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares é uma maneira de dar visibilidade a pesquisas e práticas que podem contribuir para a elaboração coletiva de nosso futuro” (José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo). 

A segunda galeria do pavilhão, intitulada Lugares de Origem, Arqueologias do Futuro, inicia com a projeção do vídeo O Sacudimento da Casa da Torre e o Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée de Ayrson Heráclito e destaca a importância da ancestralidade e arqueologia da memória. 
A galeria reune projetos e práticas socioespaciais dos saberes indígenas e afro-brasileiros sobre a terra e o território, utilizando cinco referências essenciais: Casa da Tia Ciata, no contexto urbano da Pequena África no Rio de Janeiro; a Tava, como os Guarani chamam as ruínas das missões jesuítas no Rio Grande do Sul; o complexo etnogeográfico de terreiros em Salvador; os Sistemas Agroflorestais do Rio Negro na Amazônia; e a Cachoeira do Iauaretê dos Tukano, Arawak e Maku. 



A exposição demonstra o que várias pesquisas científicas comprovam: terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados do Brasil, e assim apontam para um futuro pós-mudanças climáticas onde “de-colonização” e “descarbonização” caminham de mãos dadas. Suas práticas, tecnologias e costumes ligados ao manejo e produção da terra, como outras formas de fazer e de compreender a arquitetura, estão situadas na terra, são igualmente universais e carregam em si o conhecimento ancestral para ressignificar o presente e desenhar outros futuros, tanto para as comunidades humanas quanto para as não humanas, em direção a outro futuro planetário.


Vencedores do Leão de Ouro ao lado da ministra Margareth Menezes, da Cultura.
Foto: Rafa Jacinto/Fundação Bienal de São Paulo Povos originários e negros na arquitetura do Brasil

Quero parabenizar a Gabriela de Matos e Paulo Tavares pela vitória na Bienal mais importante do mundo. Eles trouxeram uma temática interessantíssima, instigante e necessária que é a influência dos povos originários e do povo negro na arquitetura do Brasil e todo mundo estava falando muito bem sobre o trabalho desses dois jovens arquitetos. A arquitetura brasileira prova, mais uma vez, que é um vetor de projeção internacional do país”, disse a ministra da Cultura, Margareth Menezes, que foi a Veneza, representando o governo brasileiro.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Imissão de posse na comunidade quilombola de Pedra d'Água

24 de abril de 2023
por Francimar Fernandes Zadra 

Boa noite colegas de todos os cantos e recantos da Paraíba. Venho informar de comum acordo com membros da comunidade de Pedra d’Água que hoje foi um dia muito importante para os quilombos da Paraíba. O INCRA procedeu a imissão de posse de uma área no quilombo Pedra d’Água, município de INGÁ. Uma pequena área de 6,0 há, porém, significativa para impulsionar e retomar a dinâmica da comunidade e porque não dizer de todas as comunidades. Essa decisão parcial já durava mais de cinco anos e sem muito esperar a comunidade foi informada que o superintendente faria este ato hoje. A direção da comunidade e as lideranças se movimentaram e fizeram bonito. Marta, Bela, Pitéu, Lourdes, Guiomar, o professor de capoeira e seus alunos fizeram bonito. Viva as conquistas nas comunidades quilombolas. Teve momento na sede da associação e depois seguimos para o imóvel. Foi lindo e gratificante fazer parte deste momento também
E ainda fomos recebidos com um gostoso lanche: mungunzá, cocada, tapioca.







sábado, 3 de dezembro de 2022

II° Festival Quilombola em Santa Luzia

Matéria da @tvparaiba filiada da rede globo, sobre o II Festival Quilombola realizado pela secretaria estadual de cultura( @secultpb ) que ocorreu neste último domingo (27/11/2022) no quilombo Serra do talhado no município de Santa Luzia-PB. Onde tivemos a participação das três comunidades Quilombolas de Pombal e grupos culturais e folclóricos de nosso município: Os negros dos Pontões, Reisado, @dancaafropb do quilombo @quilombo.daniel e o grupo de capoeira do @quilombolasbarbosa21 . Foi um momento riquíssimo de manifestação cultural com a participação de 32 Quilombos através de suas ancestralidades, cultura e resistência do nosso povo quilombola.


para assistir ao vídeo clicar na imagem

terça-feira, 8 de novembro de 2022

COMUNIDADE QUILOMBOLA CAIANA DOS CRIOULOS: ALAGOA GRANDE - PB

Este livro é um exercício de resistência, escrito pelas mãos e vozes das mulheres e homens da comunidade de Caiana dos Crioulos, em parceria com jovens historiadores/as que integram o PET História/UFCG. Trata-se de um encontro entre duas comunidades; a primeira vista distinta, mas nem tanto, sobretudo, porque comungam do mesmo ideal, qual seja a construção de um Brasil decente, o que passa pela democratização do exercício de escrever e contar suas histórias, aprender e ensinar, ser professor/a de História, quilombola e cidadão/ã. 

A narrativa que o compõe diz sobre a história da gente negra de outrora numa interface com a contemporaneidade. Com uma linguagem didática, e crítica discorre sobre a comunidade remanescente quilombola Caiana dos Crioulos, as histórias dos seus moradores e moradoras na luta em defesa da terra e contra o racismo. 

A história da comunidade Caiana dos Crioulos é marcada pela expansão do capitalismo, escravismo e estruturação do latifúndio; questão discutida no Capítulo 1 Propriedade Privada x Propriedade Coletiva. 

A luta de Zumbi não foi em vão, prosseguiu nas ações de homens e mulheres negras e livres Brasil a fora que fundaram várias formas de organização. Estas questões compõem a narrativa do Capítulo 2 Lutas Históricas dos Movimentos Negros. 

No processo de luta por cidadania, o conceito de quilombo foi reinventado pela gente negra, e reacendem no Brasil as comunidades remanescentes quilombolas; herdeiras de Palmares e das lutas que lá foram travadas. Tal questão é pensada no Capítulo 3 Conceito de Quilombo. 

A presença das comunidades negras Brasil a fora, não lhes garantiam a condição de quilombola e de existência na história do Brasil. Era preciso certificação, essa questão é discutida no Capítulo 5 Da Identificação à Posse da Terra Quilombola. 

Depois de muita luta a gente negra de Caiana conseguiu, a comunidade é certificada como quilombola, porém a luta não cessa. Cadê as condições para torná-la produtiva? Tal discussão compõe o Capítulo 6 Atividades Econômicas e Relações Sociais de Produção. 

A luta é ancestral está na essência da gente quilombola de Caiana, não para, em alguns momentos elas podem se sentirem cansadas, mas encontram razão para continuar, qual seja, seus ancestrais não foram escravos, sempre lutaram contra a escravidão. Essa história perpassa pelo Capítulo 7 Ancestralidade.

Não há homogeneidade, mas unidade na diversidade, tudo depende do modo como as forças ancestrais são apreendidas. Nesse fazer muitos transpuseram os limites da comunidade e buscaram outros espaços, uns próximos, mais também distantes. A vida lhes ensinou outros caminhos, ainda que a sociedade republicana não os reconhecesse cidadão viajar era preciso. Essa narrativa compõe o Capítulo 8 Os “Matutos”. 

Com pouca ou nenhuma escolaridade muitos foram dispensados do trabalho no eito da cana e tomaram outros rumos. O destino foi deixar Caiana rumo ao sudeste do país, principalmente o Rio de Janeiro. Essa narrativa compõe o Capítulo 9 Migrações de Caiana dos Crioulos para o Rio de Janeiro.

Foram as mulheres que tornaram Caiana dos Crioulos reconhecida no Brasil como comunidade remanescente quilombola, seja com a ciranda ou o coco, as mulheres de Caiana, representada na pessoa da mestra Dona Edite ganhou o mundo e nunca mais retornou. A história vivida por essa mestra cirandeira na companhia de outras mulheres cirandeiras faz parte do Capítulo 10 Mulheres Quilombolas a Mestra Dona Edite. 

A Associação de Mulheres de Caiana tem contribuído para o avanço da comunidade a medida que tem se mantido a frente do debate em torno das políticas públicas para os quilombolas e provocado o debate político na comunidade, principalmente no que diz respeito a manutenção das tradições quilombolas; questões discutidas no Capítulo 11 A Cultura em Caiana. 

Nem sempre as praticas educativas ocorridas na escola se fizeram de acordo com os princípios da cultura quilombola; questão que passou a ser discutida quando a escola passou a contar com professoras/es da comunidade os quais passaram a questionar o currículo na perspectiva de reverter o baixo índice de aprendizagem das crianças e jovens matriculados na escola. Tal questão está discutida no Capítulo 12 Educação. 

No exercício de escrita desse livro, ambas as comunidades seguiram por caminhos que escolheram, acertaram e erraram, ainda que o sistema tenha lhes dito “vem por aqui”; o importante é que reescreveram suas histórias. Por isso, este livro ajudará os jovens estudantes quilombolas, assim com as crianças e os adultos, os estudantes de História, sejam quilombolas ou não, a reescreverem suas histórias e a da comunidade onde vivem. Trata-se, portanto, de uma leitura necessária e indispensável a todas as pessoas que acreditam na educação como meio de transformação dos sujeitos, pois rompe com a perspectiva de uma história única. Se outra história pode ser escrita, outro Brasil também é possível.

Waldeci Ferreira Chagas 

AIRES JOSÉ LUCIANO DE QUEIROZ – Organizador. 
CAROLINA ALBUQUERQUE DOS SANTOS ÉRICA MELO LIMA EDNALVA RITA DO NASCIMENTO JOÃO PEDRO HENRIQUES DE CASTRO MORAIS LUCAS SILVA LIRA LÚCIA DE FÁTIMA JÚLIO MARIA DAS DÔRES DA SILVA LIMA VITÓRIA GALDINO DA SILVA Autores 

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Novas oportunidades para os quilombolas de Pedra d'Água no projeto de cultivo de algodão orgânico na região

Cidade da Paraíba comemora a retomada do algodão em escala industrial 



O município de Ingá, a 101 km de João Pessoa, convida associações de agricultores, instituições públicas e privadas, imprensa e clientes para o “Dia de Campo”, no dia 12 de setembro. 

Enraizado na Caatinga, com baixo índice de chuvas, Ingá está colhendo algodão com alta produtividade. O algodão orgânico cultivado pela agricultura familiar e pelas comunidades quilombolas alcança 1200 quilos por hectare. Plantado com contrato de compra garantida com tecelagens e confecções tem atraído novos agricultores saindo de 5 para 46 hectares em apenas um ano. “A retomada da produção em Ingá é um resgate cultural e histórico. Vamos colocar a cidade de volta no mapa do algodão do país”, anuncia Robério Lopes Burity, prefeito da cidade. 

Na década de 1940 Ingá era o segundo maior produtor de algodão do Brasil. Denominado ‘Ouro branco’ trouxe prosperidade, mas também dissabor. “Nos anos 80, com a praga do bicudo, todos perderam tudo, do fazendeiro ao trabalhador do roçado, sem distinção. Uma tragédia. O algodão foi praticamente extinto. Sem perspectiva de futuro, grande parte dos agricultores foi embora”, relembra Severino Vicente, 70 anos, conhecido como Biu. 

Biu desistiu do algodão em 1983, no entanto, hoje, como Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, tem a missão de convencer os vizinhos a plantar. Para isso, enfrentou o próprio trauma servindo como exemplo. “Confesso que estava receoso. Plantei somente 5 hectares, mas tive uma ótima safra e ganhei dinheiro. Este ano, já estamos em 46 hectares. Das 43 famílias associadas, 38 já vão colher algodão orgânico em setembro, inclusive a minha família”, comemora. 

Com novas perspectivas, o campo vem atraindo mulheres e jovens. Em 2021, havia apenas uma mulher no campo, este ano já são 17. A produção em Ingá envolve as comunidades de Pedra D'água, Distrito de Pontina, Sítio Pontina, Sítio Cutias, Fazenda São Paulo, Sítio Cururu, Fazenda Umatai, Sítio Pedra Lavrada e Sítio Piaba. Todos os trabalhadores são capacitados para a agricultura inovadora e agroecológica pela Empresa Paraibana de Pesquisa Extensão Rural e Regularização Fundiária – Emater. Desta forma, eles aprenderam que é possível enfrentar e vencer o bicudo sem usar veneno. 

Os envolvidos no projeto têm como objetivo conseguir suporte do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) que apoia mini e pequenos agricultores de algodão em modalidade de financiamento e custeio associado ou isolado. As conversas estão avançando. No momento, o BNB já apoia o Dia do Campo, “principalmente pelo fato do algodão ter sido atividade pujante e tradicional em passado recente na região, além do forte apoio que a gestão pública do município de Ingá está proporcionando aos participantes da cooperativa”, justifica Nazareno Nascimento Félix, agente de desenvolvimento do BNB. 

Algodão orgânico e a sustentabilidade local 

De acordo com a Textile Exchange, menos de 1% da safra de algodão no Brasil é orgânico. O algodão da Paraíba, além do valor agregado pela certificação, tem produção orientada pelos princípios da sustentabilidade ambiental, social e econômica. O trabalho tem como guia os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da agenda 2030 da ONU, cujas metas envolvem erradicação da pobreza, boa saúde e bem estar, cidades e comunidades sustentáveis, entre outras. Como consequência, o valor pago ao agricultor pelo quilo do algodão é o maior do país. 

O cultivo é consorciado com milho, feijão e fava. Além de funcionar como barreira de proteção, faz parte da estratégia da segurança alimentar. “Se chover muito, perde o feijão e o milho. Se não chover quase nada, perde a fava. De qualquer forma, o algodão floresce e tem fibra. E com o dinheiro da colheita podemos sustentar a família”, diz Biu. 

O arranjo produtivo do algodão em Ingá é cultivado com contrato de compra garantida. Por isso, toda a safra já está vendida para tecelagens e confecções da Paraíba e de outros Estados. O processo chamou a atenção da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) que veio em comitiva para o Dia de Campo por meio do projeto +Algodão. Trata-se de uma iniciativa executada pela FAO que reúne o governo do Brasil, representado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE) com instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e os países parceiros no âmbito do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO. 

“Constatamos em Ingá uma ótima qualidade técnica do algodão. A iniciativa do prefeito ao propor o ‘Dia de Campo’ é uma novidade porque agrega agentes do setor público e do setor privado e uma oportunidade de apresentar para os outros municípios da região novas soluções. Valorizamos, sobretudo, os que levam o algodão do pequeno produtor para o mundo por meio de pesquisas que geram novos tecidos e produtos de moda agregando ainda mais valor ao algodão. Nós estamos levando esse conhecimento e esta experiência para outros países da América Latina”, declarou Adriana Gregorin, coordenadora regional do projeto +Algodão. 

Uma indústria para transformar a cidade 

A meta da Prefeitura da cidade é tornar Ingá referência brasileira em algodão orgânico. As ruínas da antiga fábrica têxtil de 10.000m² já foi desapropriada pela prefeitura. A ideia é beneficiar aproveitando todos os subprodutos do algodão. Com a descaroçadeira, o caroço é separado da pluma algodão. A pluma é destinada aos compradores da indústria têxtil. Com a prensa, o óleo de algodão orgânico poderá ser vendido para a indústria cosmética. O resíduo após prensagem pode se tornar ração animal. A ideia é que tudo esteja pronto em dois anos. A fábrica será arrendada por dez anos e gerida pela Cooperativa dos Cotonicultores (Itacoop). O gestor da cidade revela que aguarda a análise do projeto Cooperar, da Secretaria da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido (Seafds), para a saída do segundo galpão, para a etapa do óleo. “Planejamos desta forma restaurar a nossa história e promover a independência dos agricultores, com geração de emprego e renda, fomentando a economia da região, tendo em vista que a cidade de Ingá é um município pólo”, diz Burity. 

Outra iniciativa é gerar valor para o artesanato típico da região. O projeto “Labirinto de Ingá” reúne mulheres em novos caminhos para a técnica artesanal, que estava em decadência na região pelo baixo valor de venda. Reunidas em associação, já estão produzindo para confecções. O “Dia do Campo” inclui a apresentação de produtos indicando um futuro para o labirinto na Indústria Criativa da Moda. “O projeto ‘Labirinto de Ingá’ aproxima as mulheres das áreas rurais que moram distantes uma das outras. Isso fortalece o senso de comunidade e de colaboração entre elas”, justifica Burity, indicando que está atento a outra meta da ODS: realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos. 

O Dia de Campo realizado pela Prefeitura de Ingá tem apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Paraíba), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Paraíba), Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), e Secretaria de Estado da Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido (SEAFDS). 

DIA DE CAMPO EM 12 DE SETEMBRO LOCAL: Ingá – Paraíba 

Contato para entrevistas: 









O prefeito de Ingá, Robério Lopes Burity, com alguns agricultores

 
O galpão

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Censo 2022: IBGE já recenseou 386.750 quilombolas

Por Maryellen Crisóstomo 

Esse é o primeiro dado oficial sobre a demografia quilombola no Brasil. 
Bahia, Maranhão e Pará representam 61,15% do total de pessoas quilombolas recenseadas até 29/08.


Pela primeira vez em 150 anos o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está realizando o recenseamento da população quilombola como grupo étnico populacional. Nos primeiros 29 dias de coleta de dados o IBGE conseguiu recensear 386.750 pessoas que se autodeclaram quilombolas. 

O Censo iniciou no dia 01 de agosto e se estende até 31 de outubro. Para o coordenador executivo da CONAQ, Antônio Crioulo, o resultado é positivo. “Uma conquista muito importante que visibiliza as comunidades quilombolas, mas, precisamos intensificar o processo de mobilização para não deixar nenhum quilombola fora do Censo”, pondera. 

Até o momento os Estados com maior número de pessoas quilombolas contadas são Bahia com 116.437 quilombolas, Maranhão com 77.683 e Pará com 42.439. Esses números correspondem a 61,15% do número total apresentado no primeiro balanço parcial do Censo Demográfico 2022, apresentado pelo IBGE no último dia 30 de agosto. 

A consolidação do Censo Demográfico em localidades quilombolas se deu a partir da demanda da CONAQ junto ao Estado Brasileiro por meio do IBGE com a mediação do Fundo de Populações da Nações Unidas (UNFPA/Brasil), atendendo aos critérios da Consulta Prévia, Livre e Informada da Convenção 169 da OIT. Em 2019 o IBGE mapeou 5.972 localidades quilombolas em 1.674 municípios de 24 Estados. Nessas localidades as pessoas terão a oportunidade de responder ao questionário completo sobre o quesito quilombola. Nas outras áreas, ao receber o recenseador, as pessoas quilombolas podem informar o nome da sua comunidade de origem. 


Se você tem dúvidas sobre o processo de recenseamento acesse a live em que a CONAQ e o IBGE trazem explicações que ampliam o entendimento sobre o Censo Demográfico em localidades quilombolas, disponível no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=bVs0aAvnQ_Q


quarta-feira, 31 de agosto de 2022

É festa no quilombo Grilo: festa de formatura e de cidadania por Luis Zadra


Chego no quilombo lá pelas cinco da tarde e posso presenciar os preparativos do evento: na cozinha, Maurina e Gracilene junto com outras companheiras estão preparando panquecas recheadas, arroz e verduras. O bolo já está prontinho na mesa, bolo a vontade. 
O salão do pequeno centro comunitário se tornou lugar de recepção como manda o figurino: cortinas, enfeites, mesas e cadeiras de gala. Festa anunciada há meses pela formatura de Roseane, Simone e Aline. Escolheram o seu quilombo para celebrar esta solenidade, escolha acertada e merecida para este lugar que sempre foi esquecido. Aqui hoje mais uma vez está se afirmando a dignidade e a vida comunitária do quilombo, família alargada onde a maioria das pessoas é emparentada. 
Devagar chegam os convidados de fora, mas sobretudo as famílias das formandas que abrilhantam o momento com os melhores trajes dando um ar de solenidade ao momento. Afinal é a primeira vez que acontece uma coisa desta no quilombo. 
Foi escolha das formandas que muito agradou à comunidade. A cerimônia começa com o merecido atraso das grandes solenidades e tudo se desenrola como manda o cerimonial conduzido por Eduardo, presidente da associação que mostra firmeza e tranquilidade. Eu fico no meu cantinho emprazerado por assistir a uma coisa tão bela, deles e para eles. 
É claro, imitando um pouco o cerimonial de várias festividades que presenciaram ao longo do tempo, mas tudo sem afetação, com muita alegria e sotaque quilombola. Emoção acompanha a história de cada formanda: relato de resiliência, dificuldades, angústia pelo desafio de cursar pedagogia na universidade, mas enfim, estão ai em seus vestidos longos azuis, penteado caprichado e exibindo segurança e esbanjando simpatia. Moças negras, representantes dum quilombo que está encontrando seu lugar ao sol: reconhecimento oficial pelo governo federal, conquista da terra, várias políticas públicas implantadas na comunidade, reconhecimento das autoridades locais, tudo que um quilombo deseja e merece. 
Meu deus, como é bonito e grande este momento que coroa anos de luta coletiva. Tudo é lembrado e até dramatizado. A fala dos adultos lembra a história antiga e recente. O destaque é dona Dora, a matriarca do outrora povoado Grilo e agora quilombo a todos os efeitos, agarrado num lajedo em cima da serra, esta mulher que foi professora, artesã de louças, parteira e lavradora com calos nas mãos. Figura símbolo da resistência quilombola. 
“Loia” (Elias) faz questão de salientar como “descobrimos a liberdade, nós que vivíamos sem ela até faz poucos anos”. “Paquinha” (Leonilda) lembra que os que acompanharam a caminhada da comunidade “nos ajudaram a tirar o medo” e Gracilene que afirma como “moças negras conseguiram vencer na vida” com orgulho da própria cor e da própria comunidade quilombola. Tudo na maior harmonia e solenidade até no momento de servir a janta e o bolo, onde quatro quilombolas negros retintos em traje de garçom com gravata de borboleta se destrincham no meio das mesas apertadas. Esta não é só uma festa de formatura, é uma festa de afirmação da dignidade. 




Meu coração pula de alegria e o Alberto tirando fotografias e filmando tudo para que nada se perca deste momento. Mas o melhor retrato é o que fica na memória do povo quilombola que do alto do rochedo do Grilo pode olhar com orgulho as quatro cidades que estão abaixo: Campina Grande, Riachão de Bacamarte, Ingá e Serra Redonda. Valeu a pena acreditar neste povo e partilhar de sua vida. Os adultos fizeram questão de agradecer quantos de fora os apoiaram. O que vale mesmo é o caminho que eles estão fazendo: nós ajudamos a caminhar. 

Luis Zadra - AACADE