quarta-feira, 31 de agosto de 2022

É festa no quilombo Grilo: festa de formatura e de cidadania por Luis Zadra


Chego no quilombo lá pelas cinco da tarde e posso presenciar os preparativos do evento: na cozinha, Maurina e Gracilene junto com outras companheiras estão preparando panquecas recheadas, arroz e verduras. O bolo já está prontinho na mesa, bolo a vontade. 
O salão do pequeno centro comunitário se tornou lugar de recepção como manda o figurino: cortinas, enfeites, mesas e cadeiras de gala. Festa anunciada há meses pela formatura de Roseane, Simone e Aline. Escolheram o seu quilombo para celebrar esta solenidade, escolha acertada e merecida para este lugar que sempre foi esquecido. Aqui hoje mais uma vez está se afirmando a dignidade e a vida comunitária do quilombo, família alargada onde a maioria das pessoas é emparentada. 
Devagar chegam os convidados de fora, mas sobretudo as famílias das formandas que abrilhantam o momento com os melhores trajes dando um ar de solenidade ao momento. Afinal é a primeira vez que acontece uma coisa desta no quilombo. 
Foi escolha das formandas que muito agradou à comunidade. A cerimônia começa com o merecido atraso das grandes solenidades e tudo se desenrola como manda o cerimonial conduzido por Eduardo, presidente da associação que mostra firmeza e tranquilidade. Eu fico no meu cantinho emprazerado por assistir a uma coisa tão bela, deles e para eles. 
É claro, imitando um pouco o cerimonial de várias festividades que presenciaram ao longo do tempo, mas tudo sem afetação, com muita alegria e sotaque quilombola. Emoção acompanha a história de cada formanda: relato de resiliência, dificuldades, angústia pelo desafio de cursar pedagogia na universidade, mas enfim, estão ai em seus vestidos longos azuis, penteado caprichado e exibindo segurança e esbanjando simpatia. Moças negras, representantes dum quilombo que está encontrando seu lugar ao sol: reconhecimento oficial pelo governo federal, conquista da terra, várias políticas públicas implantadas na comunidade, reconhecimento das autoridades locais, tudo que um quilombo deseja e merece. 
Meu deus, como é bonito e grande este momento que coroa anos de luta coletiva. Tudo é lembrado e até dramatizado. A fala dos adultos lembra a história antiga e recente. O destaque é dona Dora, a matriarca do outrora povoado Grilo e agora quilombo a todos os efeitos, agarrado num lajedo em cima da serra, esta mulher que foi professora, artesã de louças, parteira e lavradora com calos nas mãos. Figura símbolo da resistência quilombola. 
“Loia” (Elias) faz questão de salientar como “descobrimos a liberdade, nós que vivíamos sem ela até faz poucos anos”. “Paquinha” (Leonilda) lembra que os que acompanharam a caminhada da comunidade “nos ajudaram a tirar o medo” e Gracilene que afirma como “moças negras conseguiram vencer na vida” com orgulho da própria cor e da própria comunidade quilombola. Tudo na maior harmonia e solenidade até no momento de servir a janta e o bolo, onde quatro quilombolas negros retintos em traje de garçom com gravata de borboleta se destrincham no meio das mesas apertadas. Esta não é só uma festa de formatura, é uma festa de afirmação da dignidade. 




Meu coração pula de alegria e o Alberto tirando fotografias e filmando tudo para que nada se perca deste momento. Mas o melhor retrato é o que fica na memória do povo quilombola que do alto do rochedo do Grilo pode olhar com orgulho as quatro cidades que estão abaixo: Campina Grande, Riachão de Bacamarte, Ingá e Serra Redonda. Valeu a pena acreditar neste povo e partilhar de sua vida. Os adultos fizeram questão de agradecer quantos de fora os apoiaram. O que vale mesmo é o caminho que eles estão fazendo: nós ajudamos a caminhar. 

Luis Zadra - AACADE










sábado, 6 de agosto de 2022

Pela primeira vez a população quilombola será incluída no Censo 2022

O Censo 2022 está em campo para contar, pela primeira vez, a população quilombola. 


Todas as comunidades quilombolas e outro endereços com presença de quilombolas foram pré-mapeados pelo IBGE. As pessoas residentes nessas áreas poderão responder a pergunta “Você se considera quilombola”? e informar o nome da sua comunidade. 

A maior parte da população quilombola vai se declarar por meio desta pergunta, mas, em algumas situações, principalmente aquelas de quilombolas residindo fora das comunidades, seus locais de moradia podem não ter sido identificados anteriormente. 

Não se preocupe! Nesses casos, o recenseador estará treinado para realizar o cadastro do seu endereço como um domicílio quilombola, informando que naquela localidade existem pessoas quilombolas e elas serão consideradas no levantamento. 

Então, se o recenseador disser que não é possível registrar a pessoa como quilombola, solicite a inclusão, no cadastro do seu endereço, da informação sobre a localidade quilombola. Esse é um direito de todos os quilombolas. 

Abra a porta para o Censo Demográfico 2022!