segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Meu nome é Ninguém

Em 2010 fiz uma viagem a Costa do Ouro (o atual Gana) para visitar 13 castelos e fortes os quais ao longo de três séculos se tornaram importantes entrepostos europeus para o comercio do ouro e de escravos. De volta para o Brasil teve a oportunidade de organizar uma grande exposição étno-fotográfica: “A costa do ouro, mina de escravos”. Na ocasião realizai também um vídeo que, hoje, disponibilizo em internet para dar a minha pequena contribuição sobre o tema. Trata-se da história de uma moça africana capturada e trazida como escrava ao Brasil. O vídeo explica como era organizado o tráfico transatlântico dos escravizados e a crueldade do sistema escravocrata: no final os escravos não eram mais considerados como pessoas e se tornavam "peças" a comprar e vender. A moça Ninguém é o símbolo dos descendentes dos escravizados no Brasil que uma sociedade falsamente igualitária continua discriminando.
Para assistir ao vídeo clicar na imagem

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O voto dos quilombolas

Publicamos uma interessante conversa com Luís Zadra e Francimar Fernandes de Sousa sobre o posicionamento politico dos quilombolas da Paraíba nas eleições de 2014. 

Luís: 
"Uma coisa muito interessante que apareceu nestas eleições foi a participação direta dos quilombolas. Estávamos preocupados porque pareciam não totalmente motivados para participar deste pleito, mas, sobretudo, no segundo turno depois que apareceu o resultado final recebemos muitos telefonemas onde os mesmos quilombolas manifestavam a sua alegria para ter participado desta aventura onde eles entraram em primeira pessoa, coisa que no passado não tinha acontecido, mas desta vez para segurar u futuro, a garantia de uma continuidade seja com o governo Dilma, seja com o governo Ricardo, os quilombolas manifestaram interesse; é claro com todo o limite, toda ambiguidade que pode ter , não tem duvida que teve um salto de qualidade que nos permite de enxergar a necessidade de investir na formação politica, na pratica, no concreto porque este avanço se deu muito pelas lutas, pequenas e grandes que fizemos junto com os quilombolas, que eles travaram junto com o governo estadual, tudo isto permitiu enxergar um caminho aberto, um caminho novo, ou melhor a continuidade de um caminho que já iniciamos anos atrás sem duvida promissor para todos.

Francimar como é que você vê de fato, você que acompanhou mais de perto, com telefonemas contínuos, visitas, angustias; como você viu a participação dos quilombolas nestas eleições?"

Francimar: 
"Todo o trabalho que foi feito de mobilização, de conscientização, ainda não como totalmente a gente gostaria, mas estes dez anos de trabalho que culminou com esta mobilização das comunidades, talvez não 100% mas onde as comunidades não eram só para apoiar por apoiar mas vieram neste processo uma possibilidade de a gente continuar, aprofundar mais as reivindicações, a gente qualificar as demandas para que isso aconteça neste segundo mandato do governo estadual. Esta é uma possibilidade concreta porque já vivemos experiências, já vivemos ações que a gente avalia, eles também avaliaram, não somente da nossa parte, estão avaliando esta possibilidade para a segunda gestão, não só de cobrança para as coisas que acontecem, como também ver a possibilidade de interferir na politica do Estado, como vai ser colocado em pratica agora nesta segunda gestão. Eu acho que para a gente que está trabalhando o tempo todo com os quilombolas é uma oportunidade para que a gente possa continuar este trabalho de conscientização e de qualificação destas demandas e acho que este é o momento de efetivar na realidade, junto com o Governo do Estado, quais são as demandas para elas efetivamente acontecer; posso dar exemplos de várias: a questão hídrica, a questão da água, a questão dos poços, estradas, a gente tem que avançar na questão da habitação, isto deste o inicio foi, alias está sendo um entrave conseguir que efetivamente este programa se instale, é uma demanda reprimida muito grande, ainda tem muitas comunidades com habitação precária e nestes quatro anos a gente tem que resolver esta questão que é tão problemática nas comunidades".

Luís: 
"Eu acho que, para completar, a coisa que é muito bonita é que da para ver que teve um crescimento nos quilombolas, que não é mais pensar para mim, para minha família, para meu grupinho, mas pensar grande, pensar o quilombo; então a alegria deles não é porque cada um ganhou uma coisa, mas porque o ganho foi de todos, a continuidade, a certeza da continuidade de algumas politicas públicas que vão favorecer, como tu estava lembrando estradas, água e tudo mais; então eu diria que este é um passo gratificante de qualidade que devagarzinho entra o conceito que política é pensar amplo, pensar grande, pensar comunidade, não pensar como era antigamente eu e o politico, o que vou ganhar, se é um dinheiro, se é um chinelo, um colchão, um trabalho, ou se é todo o grupo que vai ganhar, e neste sentido o conceito é muito claro, ninguém foi pedir nada de pessoal, nada de particular, mas todo mundo quis defender um projeto que é de todos. Francomar: Eu acho que esta foi uma diferencia que a gente conseguiu perceber, que até que, para exemplificar a comunidade de Luíz, a de Fonseca, onde o Estado conseguiu chegar com poucas coisas, as politicas quase que não chegaram lá, só algumas mas muito poucas ainda, mas a comunidade a liderança ela embarcou, como Luís colocou, no sentido muito mais do coletivo, o que avaliou-se, conseguira avaliar ganhos e perdas que teriam se houvesse uma mudança da gestão, não somente para a comunidade, porque se pensar neles pudessem ser totalmente contrários porque chegou muito pouco, e especificamente por conta desta precariedade eles conseguiram fazer esta leitura , as lideranças e quase toda a comunidade, conseguiram fazer esta leitura das possibilidades futuras, que não era só pra lá mas para toda a questão quilombola da Paraíba, acho que este fiz a diferencia".

Luís: 
"É claro que eles não têm uma visão ampla de macroeconomia, uma visão do país, mas a visão politica deles é bem coerente com o microcosmo que eles vivem, do pequeno mundo das comunidades, eles percebem de fato que Dilma como Ricardo representa um projeto de avanço, de mudança, então esta visão politica é muito correta, é muito boa; é claro que eles não podem pensar em termos do Brasil porque é muito limitada a leitura que eles podem fazer do macro Brasil, mas do mini Brasil que eles vivem, da região que eles vivem, esta leitura é mais do que correta e permite depois avançar numa leitura mais ampla".

Francimar: 
"A responsabilidade para a gente que vem acompanhando e que pretende acompanhar mais o povo para frente é uma responsabilidade também muito grande; ter feito esta passagem, ter feito este movimento é uma responsabilidade de continuidade mostrar que vai valer a pena, então não é só porque se encerrou uma eleição que as coisas estão resolvidas, pelo contrario, eu acho que o que a gente tem que ter de organização, de mobilização, porque a gente acreditou que não foi somente o que o Governador colocou, o que a Presidenta estava anunciando que ia fazer, mas o que realmente precisa ser feito. Então eu acho que este é o ponto que a gente precisa insistir, de continuar este trabalho com as comunidades. Não foi somente porque concordamos com o plano do governo ou no nível de estado, mas o que é que efetivamente tem que ser feito. Então o que tem que ser feito ainda não está colocado totalmente nem pelo estado nem pelo governo federal, mas vai ter que ser construído junto ao governo do estado e ao governo federal. Então a gente apostou nesta possibilidade de construção para efetivar o que realmente tem que ser feito. E isso não vai ser uma coisa fácil porque a própria estrutura politica do estado, dos arranjos que foram feitos em função deste projeto de continuidade sabe que não é uma coisa fácil a ser cumprida".

Luís: 
"A campanha acabou, mas o processo politico está começando, ou melhor, está continuando o que já vem vindo há alguns anos se bem nestas eleições a participação dos quilombolas foi bem mais marcante; este processo é fundamental porque neste sentido se da a consciência politica das comunidades, é no agir, no concreto, na reivindicação de ir atrás do que é nosso no conjunto, então neste sentido é promissório o caminho que cabe para nos, é um desafio muito grande, onde não é só em questão a formação teórica para a politica, mas sobretudo a pratica da politica no dia a dia nas pequenas reivindicações, nas grandes lutas no conjunto, esta visão maior onde o quilombola insere o discurso de país".

Para ver na integra o vídeo da entrevista clicar na imagem