domingo, 21 de maio de 2023

Os povos indigena e quilombola protagonistas na Bienal de Arquitetura de Veneza 2023

Brasil ganha Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza Pavilhão brasileiro é destacado com o projeto Terra, dos curadores Gabriela de Matos e Paulo Tavares. É a primeira vez que o Brasil leva a distinção. 


Com curadoria conjunta de Gabriela de Matos e Paulo Tavares, a mostra brasileira conta com a participação de um grupo diversificado de colaboradores, composto por povos indígenas Mbya-Guarani; povos indígenas Tukano, Arawak e Maku; Tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá); Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho); Ana Flávia Magalhães Pinto; Ayrson Heráclito; Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA); coletivo Fissura; Juliana Vicente; Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias. 

A mostra parte de uma reflexão sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil, colocando a terra como o centro do debate, tanto como poética quanto como elemento concreto no espaço expositivo. A dupla de curadores propôs aterrar todo o pavilhão, permitindo que o público entre em contato direto com a tradição dos territórios indígenas e quilombolas e dos terreiros de candomblé. 

Nossa proposta curatorial parte de pensar o Brasil enquanto terra. Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas” (Gabriela de Matos e Paulo Tavares). 

A primeira galeria do pavilhão recebe o nome de De-colonizando o Cânone e busca questionar a narrativa que Brasília, capital do Brasil, foi construída em meio ao nada, ignorando o fato de que os indígenas e quilombolas que habitavam o local já haviam sido expulsos da região desde o período colonial e finalmente empurrados para as periferias com a imposição da cidade modernista. A mostra busca apresentar uma imagem territorial, arquitetônica e patrimonial mais complexa, diversa e plural da formação nacional e da modernidade no Brasil, apresentando outras narrativas por meio de arquiteturas, paisagens e patrimônios negligenciados pelo cânone arquitetônico. 




Com uma variedade de formatos, as obras que compõem a galeria incluem, entre outras, uma projeção audiovisual criada pela cineasta Juliana Vicente, uma seleção de fotografias de arquivo organizada pela historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, o mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola, comissionado especialmente para a mostra. 

Em um momento de grandes desafios enfrentados pela humanidade, realizar a exposição proposta pelos arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares é uma maneira de dar visibilidade a pesquisas e práticas que podem contribuir para a elaboração coletiva de nosso futuro” (José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo). 

A segunda galeria do pavilhão, intitulada Lugares de Origem, Arqueologias do Futuro, inicia com a projeção do vídeo O Sacudimento da Casa da Torre e o Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée de Ayrson Heráclito e destaca a importância da ancestralidade e arqueologia da memória. 
A galeria reune projetos e práticas socioespaciais dos saberes indígenas e afro-brasileiros sobre a terra e o território, utilizando cinco referências essenciais: Casa da Tia Ciata, no contexto urbano da Pequena África no Rio de Janeiro; a Tava, como os Guarani chamam as ruínas das missões jesuítas no Rio Grande do Sul; o complexo etnogeográfico de terreiros em Salvador; os Sistemas Agroflorestais do Rio Negro na Amazônia; e a Cachoeira do Iauaretê dos Tukano, Arawak e Maku. 



A exposição demonstra o que várias pesquisas científicas comprovam: terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados do Brasil, e assim apontam para um futuro pós-mudanças climáticas onde “de-colonização” e “descarbonização” caminham de mãos dadas. Suas práticas, tecnologias e costumes ligados ao manejo e produção da terra, como outras formas de fazer e de compreender a arquitetura, estão situadas na terra, são igualmente universais e carregam em si o conhecimento ancestral para ressignificar o presente e desenhar outros futuros, tanto para as comunidades humanas quanto para as não humanas, em direção a outro futuro planetário.


Vencedores do Leão de Ouro ao lado da ministra Margareth Menezes, da Cultura.
Foto: Rafa Jacinto/Fundação Bienal de São Paulo Povos originários e negros na arquitetura do Brasil

Quero parabenizar a Gabriela de Matos e Paulo Tavares pela vitória na Bienal mais importante do mundo. Eles trouxeram uma temática interessantíssima, instigante e necessária que é a influência dos povos originários e do povo negro na arquitetura do Brasil e todo mundo estava falando muito bem sobre o trabalho desses dois jovens arquitetos. A arquitetura brasileira prova, mais uma vez, que é um vetor de projeção internacional do país”, disse a ministra da Cultura, Margareth Menezes, que foi a Veneza, representando o governo brasileiro.

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